Tucano descarta a possibilidade de o acerto com o centrão incluir a revisão do fim do imposto sindical; Solidariedade, comandado por Paulinho da Força, ainda insiste
Felipe Frazão e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Um dia após acertar uma aliança com partidos do centrão, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, descartou a possibilidade de o acordo eleitoral incluir a revisão de pontos da reforma trabalhista. A posição levou o Solidariedade a ameaçar a sair do bloco e voltar a apoiar Ciro Gomes (PDT). Ligado às centrais sindicais, o Solidariedade quer a volta do imposto sindical.
Nesta sexta-feira, 20, porém, Alckmin foi categórico: “Não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical”, escreveu em uma rede social.
O centrão é formado também por DEM, PP, PR e PRB. Majoritariamente pró-Ciro Gomes, o Solidariedade queria que, no acordo com Alckmin, fosse discutida, com apoio das demais legendas, uma alternativa ao desconto obrigatório de um dia de trabalho dos empregados – extinto durante a reforma aprovada há pouco mais de um ano no Congresso.
O partido defende a chamada contribuição negociada, facultativa às convenções trabalhistas de categorias que aceitassem financiar os sindicatos.
A mensagem de Alckmin irritou a direção da Força Sindical, central que está na base da fundação do Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP).
“Do jeito que ele (Alckmin) falou, ficou mal. Não vai colocar nada no lugar (do imposto sindical)? Conversamos com o Paulinho hoje para não fechar nada com ele por enquanto. Essa informação prejudica mais ainda. Parece que o homem não entende o que se quer discutir”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna. “Isso é muito pouco. A questão para nós é o que ele vai fazer com a reforma da Previdência, com a reforma trabalhista. Não é só passar um mel na nossa boca.”
Os sindicalistas pressionaram Paulinho a manter conversas com outras siglas. Na quinta-feira, 19, na residência oficial da Câmara, ele chegara a dizer que “estava fora” do bloco se não fosse atendido. Paulinho telefonou nesta sexta-feira para líderes do PCdoB e do PSBpara saber o rumo que tomariam – se marchariam ou não com Ciro. Ouviu de representantes da legenda comunista que a hipótese será discutida no fim de semana. “Existe chance ainda de ter uma frente com Ciro, PCdoB, PSB e PDT”, disse Juruna. Paulinho não respondeu à reportagem.
Em conversas reservadas, integrantes da cúpula do partido avaliam que Alckmin acabará sendo o candidato do presidente Michel Temer e, portanto, “difícil de carregar” na campanha. Para o Solidariedade, Temer esvaziou a candidatura de Henrique Meirelles(MDB) ao atuar pessoalmente para que o Centrão não apoiasse Ciro, jogando todos no “colo” de Alckmin.
Garantia. O acerto do centrão com Alckmin passou pela garantia de que os partidos aliados terão fatias em um futuro governo e autonomia para manter o comando da Câmara e tentar tirar do MDB o controle do Senado. Embora os dirigentes do bloco neguem a cobrança por cargos, as demandas das siglas são conhecidas e tratadas como “óbvias” pela cúpula do PSDB. Um coordenador da campanha de Alckmin disse, reservadamente, que cada partido quer, no mínimo, manter o espaço atual no governo Temer.
O Centrão pediu que Alckmin intercedesse em acordos regionais e abrisse espaço na coordenação da campanha, criando núcleos integrados pelo bloco, nas áreas jurídica e de marketing.
O PP é o partido com mais ministérios: Saúde, Cidades e Agricultura, além da Caixa. O PR dá as cartas nos Transportes e na Infraero. À frente da Indústria, o PRB tem uma reclamação de ser sub-representado e almeja ter mais espaço ou um ministério com orçamento maior.
O PR exigiu que a composição presidencial fosse com o empresário Josué Gomes, da Coteminas, como candidato a vice. O PP pediu apoio ao deputado Espiridião Amin, que deseja voltar ao governo de Santa Catarina e que os tucanos ajudem na montagem de um palanque competitivo em Alagoas.
O DEM quer que Alckmin apoie o ex-prefeito Eduardo Paes na disputa ao governo do Rio e fique neutro em Goiás. O tucano ainda deve ajudar em Minas, onde o senador Antonio Anastasia (PSDB) tentará voltar ao governo, cargo almejado pelo deputado Rodrigo Pacheco (DEM), aliado de Maia.
Como revelou nesta sexta-feira a Coluna do Estadão, outro pedido do DEM é a retirada do ex-governador de Goiás Marconi Perillo da coordenação política da campanha. A demanda foi feita pelo senador Ronaldo Caiado, adversário de Perillo no Estado. / Colaborou Pedro Venceslau
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