- O Globo
O apoio dos partidos do chamado centrão pode ser tanto a salvação quanto uma fonte de problemas para o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. O ex-governador de São Paulo ganhará fôlego em sua campanha, principalmente pelo aumento do tempo de televisão, mas também dará um abraço no inimigo: DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade têm estado por trás de várias das pautas-bomba que aumentam gastos no Congresso. O mercado financeiro comemorou com alta nas bolsas e queda do dólar. Mas há quem pregue cautela.
O economista Nathan Blanche, da Tendências Consultoria e especialista em câmbio, diz que o fortalecimento da candidatura de Alckmin diminui o risco de eleição de um candidato populista em outubro, seja de esquerda, seja de direita. Por isso, a reação dos mercados foi positiva. Mesmo assim, ele avalia que o momento ainda é de reflexão porque esses partidos estão envoltos em denúncias de corrupção e tem atuado de forma ambígua em relação ao ajuste fiscal.
— Não é hora de oba-oba. O acordo é importante, mas a sombra da Lava-Jato permanece sobre esses partidos, e todo mundo sabe que o nosso presidencialismo de coalizão funciona na base do “toma lá dá cá". Há corporações organizadas que vão querer algo em troca. Isso pode ir contra o ajuste fiscal — explica.
A bancada está intimamente ligada às pautas-bomba. O relatório da Comissão Mista que propõe o repasse de R$ 39 bilhões ao ano aos estados como compensação pela Lei Kandir foi apresentado pelo senador Wellington Fagundes, do PR, e teve apoio unânime dos representantes do centrão. O valor é 10 vezes maior que o sugerido pela equipe econômica. O grupo também concordou com a derrubada de vetos que garantiu descontos de até 100% na renegociação de dívidas trabalhistas do setor rural, ao custo estimado de R$ 13 bilhões. Paulinho da Força, do Solidariedade, já avisou que seu apoio custará, em troca, uma nova forma de financiamento das centrais sindicais.
Não há dúvida de que o ajuste fiscal só passará no Congresso se houver negociação com esses partidos. Juntos, eles controlam uma bancada de mais de 160 deputados e 30 senadores. A questão é o quanto Alckmin estará disposto a ceder em seu programa de governo para conseguir selar o acordo.
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