Entrevista com Hilton Cesário Fernandes, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp)
Para analista, extensão do programa eleitoral ainda é variável mais importante nas eleições de 2018 em virtude do alcance da TV em todo o País
Luiz Raatz | O Estado de S.Paulo
A adesão em bloco do Centrão, formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB, à pré-candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB, à presidência nas eleições de 2018 deve aumentar sensivelmente o tempo de TV do tucano, o que, tem tese, deve ajudá-lo na corrida, apesar de seus números ainda tímidos nas pesquisas de intenção de voto.
Para o analista Hilton Cesário Fernandes, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp), a o tempo de TV ainda é a variável mais importante na campanha eleitoral. "O tempo de TV passa para o eleitor uma mensagem de que aquele candidato é competitivo ou não", disse ele ao Estado. A seguir, trechos da entrevista:
• Existe uma correlação entre tempo de TV e resultado eleitoral nas eleições majoritárias?
Sim. O tempo de TV ainda é a variável mais importante de uma campanha eleitoral. A TV é o meio de comunicação mais poderoso no Brasil, com uma penetração de quase 100% dos domicílios e ainda é a ferramenta mais usada para as campanhas eleitorais. O fato de os partidos terem diferentes tempos de TV acaba influenciando muito este momento de negociações de coligações justamente por causa disso. O tempo de TV é um ativo importante.
• O advento das redes sociais, principalmente aplicativos de troca de mensagens, como o WhatsApp, pode influenciar essa tendência de alguma maneira?
A TV não vai deixar de ser importante e provavelmente vai continuar sendo o meio de comunicação mais importante durante um tempo. Mas neste ano, a presença das redes sociais deve ter mais força, especialmente os aplicativos de mensagem. As informações podem ser espalhadas com muita velocidade e podem ser complementadas no caminho com opiniões (dos eleitores). Este ano a gente acredita deve ter uma influência talvez não diretamente no resultado, mas sim nos ataques aos candidatos.
• No que o tempo maior de TV pode ajudar um candidato como o Alckmin, que já é conhecido do eleitor, mas tem números tímidos nas pesquisas?
Um dos fatores no caso de uma disputa para cargo majoritário é que o tempo de TV passa para o eleitor uma mensagem de que aquele candidato é competitivo ou não. Quem tem pouco tempo de TV passa a impressão de ser pouco competitivo. Então quando começa o horário eleitoral os eleitores percebem o tempo de TV como um grau de influência do candidato: quem tem mais tempo é mais influente e tem mais poder. E isso mesmo de uma forma subjetiva é um indicativo de competitividade do candidato.
• Então isso em tese poderia prejudicar um candidato sem muitas alianças, como é o caso do Bolsonaro, por exemplo?
Exatamente. Quando ele começar a aparecer com pouco tempo de TV, na comparação pode parecer que ele ficou mais isolado. Mas isso não é uma fórmula exata. Às vezes o candidato tem muito tempo de TV, mas a imagem negativa é muito forte.
• O peso da TV numa campanha com menor volume de recursos investidos deve diminuir?
Acho que continua o mesmo, porque apesar de diminuir muito a produção, isso vai acontecer por igual para os candidatos. Não haverá uma diferença no peso da TV. O principal não será a mudança nas regras, mas sim as redes sociais.
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