- Valor Econômico
Ilan desmistifica custo de acumulação das reservas
O lucro apurado com as reservas cambiais em 2018, decorrente da apreciação do dólar em relação ao real, mais do que cobriu o custo de carregamento da acumulação de reservas de 2008 até o ano passado. A virada nas contas que zerou o custo da acumulação de quase US$ 400 bilhões em reservas internacionais ocorreu no ano passado.
"Nos últimos dez anos, as reservas se pagaram", disse o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em entrevista ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor. "As pessoas costumam dizer que as reservas no Brasil são caras por que o juro internacional é mais barato do que o juro doméstico, que é alto. Só que elas esquecem que as reservas, além do diferencial de juros, são influenciadas pela depreciação e apreciação da moeda. Se você tem dólar no seu portfólio, toda vez que o dólar aprecia, você ganha", explicou Ilan.
Assim, nos últimos dez anos, a apreciação do dólar mais do que compensou o diferencial de taxa de juros externa e interna.
Segundo dados do Banco Central, a depreciação cambial acabou produzindo um resultado positivo de R$ 126,01 bilhões em valores correntes ou de R$ 129, 62 bilhões se corrigidos pela inflação do IPCA, em 2018. Esse montante foi suficiente para zerar o prejuízo de R$ 87,05 bilhões que foi se acumulando desde 2008 e ainda deixou no caixa R$ 38,97 bilhões em valores correntes.
Esse é um ganho importante que, no entanto, não tem visibilidade fiscal. As reservas são ativos que não afetam a dívida bruta, principal indicador de solvência.
Para Ilan, "o dia que estivermos em um momento melhor e formos trocar o ativo da reserva por dívida, essa diferença vai ser monetizada". A operação, de venda de dólares para resgatar dívida, quando ocorrer, vai abater o estoque da dívida bruta. O endividamento em bola de neve é um "pesadelo", nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes. A dívida bruta corresponde a quase 80% do PIB e tem trajetória ainda crescente.
Até alguns anos atrás, os analistas do mercado focavam no desempenho da dívida líquida do setor público. Depois, ao se questionar a viabilidade de realização de alguns desses ativos públicos, os agentes econômicos passaram a acompanhar a trajetória da dívida bruta. "Isso foi uma das grandes heranças ruins do período anterior", afirmou o presidente do Banco Central.
Basicamente os ativos contabilizados na dívida líquida foram sendo rechaçados por serem de difícil realização, a exemplo da carteira de empréstimos dos bancos públicos. "Só que tem um ativo em que todo mundo confia, que é a reserva cambial. Ela vai ser uma riqueza para o Brasil no dia em que tivermos que vendê-la", ressaltou Ilan.
O próprio balanço do BC reflete isso. A autoridade monetária transferiu um montante substancial de resultados para o Tesouro Nacional, engordando sobremaneira a Conta Única, que hoje tem mais de R$ 1 trilhão.
"Ou seja, houve uma desmoralização de todos os ativos do país por que foi-se colocando um pouquinho de areia naquele 'sundae' maravilhoso. Ninguém vai comer nosso 'sundae', mas isso não significa que não tenha coisas boas debaixo da areia", afirmou Ilan.
Quando assumiu a presidência do Banco Central, em junho de 2016, Ilan mencionou que, se no futuro houvesse uma redução de risco, poderia-se discutir uma redução das reservas. Não chegamos a esse ponto. Segundo o ministro Paulo Guedes, um país que foi vitimado por uma sequência de crises cambiais precisa de "US$ 400 bilhões de reservas cambiais para acreditarem que nós vamos nos comportar bem"
Ilan não aconselha se rediscutir o tamanho das reservas cambiais enquanto o país não tiver equacionado o déficit público. "As reservas são como um seguro e ainda não é o momento de você deixar de pagar o prêmio do seguro. Por mais que você queira economizar". Aliás, o prêmio do seguro tem sido negativo, como mostram os dados e como o presidente do Banco Central salientou.
O custo de carregamento das reservas cambiais, portanto, poderia ser alto, mas não foi. Poderá vir a ser se a taxa de câmbio mudar para uma valorização sistemática do real frente ao dólar. Mas o período de dez anos que os indicadores do Banco Central abarcou é um tempo razoavelmente grande para mostrar uma tendência.
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