A história recente do Brasil tem sido escrita em meio a turbulências políticas e econômicas desestabilizadoras. No campo político, a necessária purgação de práticas corruptas tem se arrastado desde 2014, abarcando correntes variadas — muitas delas ainda em plena atuação nos poderes Executivo e Legislativo. Uma presidente eleita sofreu impeachment por maquiar contas públicas; um presidente popular está preso, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
No campo econômico, o Brasil está emergindo lentamente de sua pior recessão de todos os tempos, com taxas de desemprego altas, ampliação da desigualdade social, aumento da miséria e piora dos indicadores sociais.
Há uma onda mundial de descontentamento e frustração, que tem sido combustível para lideranças populistas de direita. Os brasileiros estão também desesperados por mudanças. Essa necessidade foi claramente manifestada nas urnas, e os mandatários ungidos nos cargos nesta semana têm a responsabilidade de atendê-la.
Repousa sobre o presidente Jair Bolsonaro, recém-empossado, a maior expectativa. Chegou ao poder com um discurso que pregava uma mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico, confessando reiteradas vezes uma compreensão apenas superficial da ciência econômica. Ainda reverberam frases ditas por ele que causaram polêmica e repulsa. Disse que, se tivesse um filho homossexual, preferiria que morresse; afirmou que não violaria uma colega de Parlamento por ser muito feia; chamou negros de preguiçosos e gordos; classificou o aquecimento global como “fábula”. Os apoiadores de Bolsonaro consideram suas opiniões franqueza.
Sua agenda errática tem provocado idas e vindas preocupantes. As promessas de revisão das proteções ambientais em favor do poderoso agronegócio brasileiro, da retirarada do país do acordo climático de Paris e de revisão das reservas indígenas são alguns dos temas que têm deixados perplexos líderes de nações parceiras do Brasil.
Na montagem de sua equipe, o presidente teve o mérito de encolher significativamente os postos ministeriais. Suas escolhas para os ministérios, no entanto, preocupam. Em geral, são nomes sem peso técnico, político ou social, alguns renitentes adeptos de um caricato polemismo anticientífico.
O novo governo aposta suas fichas no núcleo econômico, conduzido pelo superministro Paulo Guedes. A promessa de uma agenda liberalizante ampla, com redução dos gastos do Estado, simplificação de impostos, privatização em escala, reformas pontuais urgentes e desvinculação de receitas orçamentárias, foi bem recebida por parcela majoritária do setor produtivo.
Algumas dúvidas sobre o sucesso dessa agenda se impõem. A primeira diz respeito à possibilidade de uma grave crise econômica internacional lançar o país à lona. A segunda refere-se à competência política na sustentação do governo. A terceira calcula os impactos no desgastado tecido social brasileiro de uma política econômica pouco simpática à manutenção ou extensão das redes de proteção social.
O presidente Bolsonaro assumiu com a promessa de governar em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião. Comprometeu-se a trabalhar na construção de um Brasil próspero, justo, seguro e pacífico. A partir desta semana, estará desafiado a mostrar-se à altura de tal empreitada.
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