- Folha de S. Paulo
Salário mínimo, Pibinho, juro alto e Congresso serão problemas das águas de março
O mundo bolsonarista deu motivos novos para a galhofa do Carnaval, que vai ter muita fantasia de laranja, entre outras troças. Mas dureza mesmo vai ser o recomeço do ano. Na Quaresma ou nas águas de março, esse governo terá uma agenda cheia de problemas.
1) Salário mínimo.
Até 15 de abril, Jair Bolsonaro tem de enviar ao Congresso o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, no qual o governo deve dizer o que fará do salário mínimo. A regra de reajuste que havia caducou.
O mínimo tem impacto nas contas da Previdência. Afeta o valor de quase 23 milhões de benefícios previdenciários e assistenciais e, de um modo ou outro, os salários de um terço dos trabalhadores, que ganham o mínimo ou menos.
Por estas semanas, mais gente do povo vai saber que Bolsonaro quer limitar a concessão do abono salarial anual a quem ganha até um mínimo, o que atingiria mais de 21 milhões de trabalhadores, nas contas da Instituição Fiscal Independente.
2) Barganha no Congresso.
O Congresso volta a funcionar no dia 12 de março. O governo não tem coalização partidária, organização ou lideranças para dar início à tramitação da reforma da Previdência. Assim vai continuar caso Bolsonaro não firme algum acordo de divisão de poder, o que chamava de “toma lá dá cá”. Vai ter de engolir essa conversa de campanha ou vai ter crise política e econômica. Se fizer acordo, por outro lado, vai queimar um pouco do seu filme com suas redes insociáveis.
3) Economia fria.
A economia parece se resfriar, mesmo sem ter convalescido. A criação de empregos, que era de ínfima a medíocre, perde ritmo. A confiança dos empresários diminuiu em fevereiro. Em meados de março, saem os primeiros dados de produção e comércio do ano. A indústria deve ter encolhido em janeiro.
4) Juros.
Na semana depois do Carnaval, toma posse a nova diretoria do Banco Central. Na seguinte, tem decisão sobre taxa de juros. Há discussão agora quase geral sobre a necessidade de voltar a cortar os juros. Em meados de março, portanto, o mundinho econômico estará discutindo abertamente a estagnação crônica do país.
5) O silêncio dos Bolsonaro.
Bolsonaro falou de aguar a reforma da Previdência que nem começou a tramitar. Causou irritação entre seus economistas, preocupação entre seus generais e alarme entre os donos do dinheiro. Mais uma vez, gente graúda no governo volta a dizer que o presidente vai se comportar.
Foi o que essas pessoas disseram por ocasião dos rolos com os filhos de Bolsonaro ou, por exemplo, quando o presidente falou de base norte-americana no Brasil ou de cancelar a venda da Embraer para a Boeing, entre outras declarações fora da casinha. Vai dar certo, agora?
6) Guerras ideológicas e outras batalhas.
Com tantos problemas sérios, o governo se permite manter ou apoiar ministros adeptos do disparate ideológico ou odiento, para não falar da incompetência palerma. Há ainda um primeiro-filho e ministros enrolados em laranjais ou caixa dois, entre outros problemas no cartório. Esses cadáveres vão continuar a boiar ou vão chegar à praia.
No dia 14, terá passado um ano do assassinato de Marielle Franco, provavelmente por milícias, as mesmas que rondam a história dos Bolsonaro. Serão dias de confrontos, lembranças e recriminações amargos.
No fim do mês, de resto, o golpe de 1964 faz aniversário, grande oportunidade de incitar ódios, viagem que os Bolsonaro não costumam perder.
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