Por Fernando Taquari | Valor Econômico
Alckmin: "Querem distribuir armas à vontade e voltar ao Velho Oeste"
SÃO PAULO - O ex-governador de São Paulo e presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, fez ontem duras críticas ao governo de Jair Bolsonaro, seu adversário na sucessão presidencial de 2018. Sem citar nominalmente a atual gestão, o tucano disse que o país tem hoje uma agenda com ideologia ultrapassada e que representa o "PT de ponta-cabeça". As declarações foram feitas na convenção do PSDB paulista, que elegeu o secretário estadual Marco Vinholi para o comando do diretório estadual.
"Vemos no Brasil hoje um clima de ódio. É o PT de ponta-cabeça, da intolerância, dos donos da verdade e do puxa-saquismo", afirmou Alckmin sob aplausos da militância. Em sua fala, o ex-governador ainda manifestou preocupação com o impacto comercial das críticas de Bolsonaro à China e de sua aproximação com o governo de Israel, desafeto dos países árabes.
"A economia não anda. Falta confiança. Precisamos de uma agenda de competitividade e de inserção internacional. Somos um país de pequeno comércio exterior e ficamos brigando com a China e mundo árabe, comprando briga à toa, uma ideologização ultrapassada", frisou Alckmin, que também condenou a posição do governo Bolsonaro em favor da flexibilização da posse de armas.
"Querem distribuir armas à vontade e voltar ao Velho Oeste", afirmou Alckmin, para em seguida citar uma frase atribuída ao padrinho político, o governador Mário Covas, falecido em 2001. "O cidadão que é coronel e está instruindo o soldado não pode dizer que ele tem que matar. Quem mata bandido, mata também gente que é inocente", acrescentou.
O discurso de Alckmin também foi marcado por um tom de despedida. O mandato do ex-governador à frente da legenda se encerra em 31 de maio, quando ele deve passar o bastão para o ex-deputado federal Bruno Araújo (PE), escolhido pelo governador João Doria para comandar o PSDB nacional.
Alckmin afirmou que a partir do mês que vem se dedicará à medicina. Ainda assim, não deixou de fazer reflexões sobre os rumos do partido. Em sua opinião, o debate sobre o futuro do PSDB deve se pautar pelos princípios que nortearam a origem da sigla. "Para que criar novo partido? Para defender o establishment, para defender gente rica?, questionou.
Segundo o ex-governador, a política atual passa por modismos. Como exemplo, citou o fato de alguns partidos terem recentemente mudado de nome. "Como se isso tornasse um partido melhor ou pior ou perdoasse algum erro", analisou Alckmin.
A declaração de Alckmin sobre um novo partido ocorre em meio às articulações de lideranças tucanos e dirigentes do DEM em torno de uma possível fusão.
Questionado sobre essa hipótese, Doria afirmou que a questão será debatido depois da convenção nacional. O governador, porém, deixou a porta aberta. "Minha posição pessoal é de que temos de ter partidos fortes, diante das novas eleições municipais e também das eleições gerais de 2022", ressaltou.
Alçado na convenção à condição de presidenciável em 2022, Doria fez um discurso de homenagem às figuras históricas do partido. Afirmou, porém, que o PSDB agora é o partido da juventude, com dirigentes na faixa dos 30 anos, e que rejeitam o "populismo de direita e de esquerda". "Nossa posição é de centro", afirmou.
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