- Folha de S. Paulo
Seria melhor ensinar história do que destruir estátuas
Os bandeirantes voltaram à moda. Estão, de novo, na mira do politicamente correto. O alvo preferido é facilmente atacável: a estátua de Borba Gato, decerto uma das coisas mais feias de São Paulo. Mais difícil é achar quem estenda a crítica política ao Monumento às Bandeiras, obra modernista tombada.
Os bandeirantes exemplificam os problemas desse revisionismo para estabelecer o que seria aceitável. Quatro das rodovias que conectam a capital paulista os homenageiam: a dos Bandeirantes, a Anhanguera, a Raposo Tavares e a Fernão Dias. Outra leva o nome de Anchieta, jesuíta que apoiava a escravidão dos negros e catequizava indígenas. O religioso deveria receber qual rótulo?
As rodovias paulistas também guardam questões mais contemporâneas. Ayrton Senna, que batiza uma delas, é o piloto que jogou o carro em cima de um adversário para ganhar um Mundial de F-1. Outra leva o nome do primeiro presidente da ditadura militar, Castello Branco. Ela cruza o Rodoanel Mário Covas, político cassado pela ditadura de Castello, e o viaduto Roberto Cardoso Alves, que personifica o centrão fisiológico do Congresso desde quando Arthur Lira estava no colégio. Os tamoios, homenageados num dos caminhos do litoral, praticavam o canibalismo como vingança. Na época de D. Pedro 1º, que dá nome a uma estrada do interior, revoltosos eram executados.
Por falar em executados: Tiradentes, herói da Inconfidência, tinha seis escravos, como lembrou o autor Laurentino Gomes. Suas estátuas deveriam ter o mesmo destino que começa a ser dado às de Cristóvão Colombo, pioneiro da conexão entre Europa e América?
Levado ao pé da letra, esse tipo de revisionismo não tem fim, nem melhorará o mundo por si só. Alguns dos que empunham tal bandeira partem de uma premissa furada de superioridade moral. Outros ignoram a complexidade de cada caso. Seria mais proveitoso educar melhor as pessoas sobre história do que sair por aí apagando o passado.
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