Mesmo com pressões e tentativas de intervenção, o Ministério da Agricultura permanece como ilha de competência num arquipélago de incapacidade
Apesar da ação nefasta do presidente da República, a agropecuária continua vigorosa, a safra de grãos deve ser recorde e o agronegócio continua garantindo, com exportações crescentes, a segurança externa da economia brasileira. A produção de grãos deve atingir 250,54 milhões de toneladas na safra 2019/20, com aumento de 8,5 milhões de toneladas em relação à anterior. Mesmo com mudanças na atividade, o agro se mantém, até agora, como o único setor em crescimento, numa economia severamente abalada pela crise da covid-19. Mesmo com pressões e tentativas de intervenção da Presidência e de seu entorno, o Ministério da Agricultura permanece como uma das poucas ilhas de competência num arquipélago de despreparo e de incapacidade administrativa.
Comida na feira e nos mercados está garantida, em 2020, assim como tem estado há muito tempo. A safra de feijão, estimada em 3,07 milhões de toneladas, deve ser 1,9% maior que a da temporada 2018/2019. A de arroz, calculada em 11,13 milhões de toneladas, deve ser 6,5% maior que a do período anterior. Com algum esforço e algum interesse, o governo poderá proporcionar ajuda e coordenar a assistência aos mais necessitados, enquanto demoram a reativação dos negócios e a abertura de vagas. Esse apoio será organizado mais facilmente se o presidente evitar decisões como a de transferir dinheiro do Bolsa Família para a propaganda do governo.
Recordes estão previstos para as colheitas de soja (120,42 milhões de toneladas), principal produto de exportação do agro, e de milho (100,99 milhões de toneladas). O quadro é favorável também para outras culturas. O resultado final só será conhecido no segundo semestre, quando estiverem colhidos os produtos de segunda e de terceira safras e os típicos de inverno, como trigo e aveia. Em cada ano há dois plantios de amendoim e três de feijão e milho. Essa possibilidade é uma das vantagens da agricultura brasileira.
Além de garantir boas condições de abastecimento interno, o agronegócio sustenta o superávit no comércio de bens. Em abril, as exportações do setor chegaram a US$ 10,22 bilhões, um recorde para o mês. Esse valor foi 25% maior que o de um ano antes, de US$ 8,18 bilhões. Em um ano a participação do agro na receita total das vendas ao exterior passou de 42,2% para 55,8%. O volume vendido, 31% maior que o de abril de 2019, permitiu a expansão do faturamento, porque o índice de preços caiu 4,6%.
O aumento da quantidade, de 11,1%, permitiu também o ganho maior (5,9%) nas exportações do primeiro quadrimestre. De janeiro a abril o agronegócio faturou US$ 31,40 bilhões, soma equivalente a 46,6% das exportações totais do Brasil. O saldo positivo do setor, de US$ 26,83 bilhões, novamente compensou o déficit acumulado nos demais segmentos do comércio exterior. Com isso, o País conseguiu nesse período um superávit comercial de US$ 11,80 bilhões.
A Ásia, liderada pela China, foi novamente o principal mercado externo do agronegócio brasileiro, apesar dos desaforos lançados por gente do governo e pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. O mercado asiático (excluído o Oriente Médio) absorveu 55,4% das vendas. O segundo destino mais importante foi a União Europeia, com participação de 16,4% no total negociado. A participação europeia continua importante, embora o presidente Bolsonaro, auxiliado por alguns de seus mais medíocres ministros, continue manchando a imagem do agronegócio brasileiro com sua política antiambientalista, simbolizada pela devastação da Amazônia. Cada impropriedade pronunciada ou materializada pelo presidente e por esses ministros favorece o protecionismo agrícola na Europa e, há menos tempo, também nos Estados Unidos. Até a ratificação do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul é rejeitada pelos críticos do bolsonarismo, em nome da preservação ambiental, da competição justa e dos direitos humanos. Em 12 meses o superávit comercial do agronegócio chegou a US$ 85,04 bilhões, apesar da pandemia, das tensões no comércio mundial, mas, sobretudo, apesar de Bolsonaro.
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