Presidente se lança em eventos de campanha; dinâmica política ameaça o erário
Mal se livrou do período de convalescença da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro pôs-se a viajar pelo país a cumprir agendas regionais. Não fosse este um período em que governantes responsáveis deveriam desestimular aglomerações, nada haveria a estranhar.
Em passagem pelo sul do Piauí e o norte da Bahia na quinta (30), Bolsonaro vestiu chapéu sertanejo, andou a cavalo e inaugurou um sistema de abastecimento de água cujas obras haviam sido iniciadas na gestão de Dilma Rousseff (PT).
Num palanque típico, saudado por um público decerto selecionado pela oligarquia local, como é típico, o presidente fez um discurso típico. Elogiou a bancada de congressistas da região, disse que “ninguém governa sozinho” e prometeu ajudar a resolver problemas da localidade em conjunto com “o Parlamento brasileiro”.
Foi mais um desdobramento na tentativa do chefe de governo de transitar do exotismo belicoso, que prevaleceu nos primeiros 18 meses do mandato, para condutas mais próximas das que o sistema presidencialista brasileiro concita.
Facultada pela Carta a possibilidade da reeleição, parece natural que o incumbente, ainda mais um com elevada taxa de rejeição para o início do mandato, aja para atenuar os focos de insatisfação popular. E o Nordeste, que desde meados da década passada descarrega votos em presidenciáveis petistas, é um bastião dessa resistência.
A crise carreada pela pandemia também mostrou a Jair Bolsonaro a importância da agenda econômica inclusiva num país atravessado por uma desigualdade atroz.
A ajuda emergencial de R$ 600 atenuou a impopularidade presidencial nos estratos de renda mais baixa, e agora o governo busca desesperadamente transformar uma parte do que era auxílio transitório num programa permanente de transferência de renda mais ambicioso e custoso que o Bolsa Família.
Enquanto isso, no Congresso o jogo ficou mais denso. Uma parte dos deputados costura um bloco em torno de MDB e DEM, o que complica a tentativa do Planalto de cooptar apoio parlamentar por meio de negociações de cargos e verbas com o chamado centrão.
A aprovação de generoso aumento de gastos para a educação, via Fundeb, e as invectivas sibilinas ou escancaradas para burlar o teto de dispêndios federais indicam que uma resultante dessas movimentações de presidente e parlamentares pode ser a corrida de todos para aumentar ainda mais as despesas e o endividamento do erário.
Eis um risco a ser monitorado e evitado, até por interesse egoísta eleitoral. Afinal, a história recente já deixou clara a relação entre a gastança de hoje e a crise econômica —e política— de amanhã.
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