Baque na economia das cidades é previsível, mas decisões devem privilegiar os protocolos sanitários
Faltando cinco meses para o réveillon e pouco mais de seis para o carnaval, é possível prever que, nas duas maiores cidades do país, essas festas ficarão de quarentena. A prefeitura de São Paulo já anunciou a suspensão do réveillon da Avenida Paulista e o adiamento do carnaval. No Rio, a situação ainda está indefinida, mas a tradicional imagem de milhões de pessoas confraternizando na Praia de Copacabana não deverá se repetir na virada do ano, já que a Riotur estuda outros formatos, mais adequados aos tempos atuais.
Não faz sentido permitir aglomerações de milhões de pessoas em meio a uma pandemia que não se sabe quando estará controlada. Num país que há cinco meses vive em luto permanente, e já soma mais de 92 mil mortos pela Covid-19, soa estranho falar em comemorações. Registre-se ainda que as duas capitais concentram quase 20% de todas as mortes no país.
Enquanto a prefeitura do Rio ainda não bateu o martelo sobre o carnaval, pelo menos cinco escolas avisaram que não desfilarão em fevereiro, a não ser que surja uma vacina até lá. Propõem que a festa seja transferida para outra data. É incerto também o destino dos blocos, que, por óbvio, não resistem às cordas do “novo normal”.
São decisões naturalmente difíceis, pelo inexorável impacto nos cofres públicos. No Rio, o carnaval deste ano atraiu 2,1 milhões de turistas, reuniu 10 milhões de foliões e injetou R$ 4 bilhões na economia do município.
Representantes da rede hoteleira estrilaram diante da possibilidade de cancelamento do réveillon, que costuma levar 3 milhões a Copacabana. Alegam que os investimentos na festa sustentam cerca de 100 mil empregos. Defendem a descentralização da queima de fogos, com a dispersão do público por diferentes pontos.
Entende-se que todos os setores da economia estejam pressionados por uma crise sem precedentes. Mas não se pode ignorar a gravidade da pandemia. Vive-se um ano absolutamente incomum. As decisões, por mais duras que sejam, precisam ser tomadas com base na Ciência e nos protocolos sanitários, de modo a preservar vidas. Em Blumenau (SC), a tradicional Oktoberfest foi cancelada pela primeira vez desde que foi criada. Não havia mesmo como ser diferente num estado onde a doença está em aceleração.
Quando a epidemia passar, as cidades poderão retomar suas festas. No Rio, o carnaval de 1919, o primeiro depois da Gripe Espanhola, que matou cerca de 14 mil cariocas, revelou-se arrebatador — a euforia era tanta que foliões satirizavam até a pandemia. Não faltava motivo para o extravasamento, afinal a peste tinha ficado para trás.
Imagina-se que momento semelhante chegará. Por ora, ainda estamos longe dele.
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