Na
guerra dos primos, Marília, candidata do PT, sai na frente com apoio da direita
O
novo virou velho e o velho o novo na guerra pela prefeitura do Recife travada
por João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) – ele, filho do ex-governador
Eduardo Campos que morreu em um acidente aéreo em agosto de 2014; ela, filha de
um dos 10 filhos de Miguel Arraes que governou Pernambuco três vezes. Portanto,
João, bisneto de Arraes, e Marília, neta.
Se
a idade pesasse na definição de quem seria o novo, João venceria Marília. Ele
tem 26 anos, ela 36. Mas na política, o novo e o velho se alternam a depender
do que cada candidato representa. Coube a João representar um conjunto de
forças que ocupa há 14 anos o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo
de Pernambuco, desde que ali chegou seu pai, neto de Arraes.
João
foi o candidato mais votado no primeiro turno com 29,13% do total de votos
válidos. Marília, o segundo com 27,90%. Pesquisa do Ibope aplicada entre a
última segunda-feira e ontem conferiu a Marília 53% das intenções de voto e a
João, 47%. Para Marília migrou parte dos votos de Mendonça Filho (DEM) e da
Delegada Patrícia (PODEMOS), terceiro e quarto colocados.
Se
a direita não tivesse se dividido no primeiro turno, ela estaria no segundo.
Somados, Mendonça Filho e a Delegada Patrícia obtiveram 40% do total dos votos
válidos. O PT só disputa o segundo turno em duas capitais – Vitória e Recife.
Deve perder em Vitória e ganhar no Recife onde o PT e a direita se uniram para
derrotar o PSB de Eduardo Campos e de João, seu herdeiro.
Marília
foi três vezes vereadora do Recife– uma pelo PSB e duas pelo PT. Sua votação
cresceu a cada eleição. Lançou-se candidata pelo PT a governadora há dois anos,
mas na última hora, o partido passou-lhe a perna e apoiou o atual governador do
PSB Paulo Câmara. Ela então disputou uma vaga de deputada federal. Elegeu-se
como o segundo nome mais votado – o primeiro foi João.
Criada
pelos pais livre e solta, Marília meteu-se na política desde cedo e à sombra do
avô. João começou a despontar para a política quando apareceu no alto de um
carro do Corpo de Bombeiros que conduzia o caixão com o corpo do seu pai. Foi
uma das cenas mais comoventes que o Recife testemunhou. Menos de 2 anos depois,
foi nomeado chefe de gabinete de Câmara.
Sob
o comando do senador Humberto Costa, o PT de Pernambuco tentou barrar a
candidatura de Marília a prefeita. Desta vez, a direção nacional do PT bancou a
candidatura. O PT de Costa tem cargos no governo estadual e torce sem discrição
para que Marília perca. Lula gravou mensagem pedindo votos para ela e prometeu
comparecer à sua eventual posse como prefeita.
O
PODEMOS da Delegada Patrícia e o PTB do senador Armando Monteiro Neto que
apoiou Mendonça Filho anunciaram o apoio a Marília. O Cidadania, que votou em
Patrícia, mas faz dura oposição ao PSB, deverá ir pelo mesmo caminho. O
bolsonarista Anderson Ferreira (PL), prefeito reeleito de Jaboatão, município
vizinho ao Recife, aderiu a Marília. O PL votou em Mendonça Filho.
João
conseguiu no primeiro turno esconder o apoio dos dois maiores caciques locais
do PSB – Câmara, o governador, e Geraldo Júlio, prefeito do Recife. É grande a
reprovação aos dois. Esse será um dos trunfos de Marília no horário de
propaganda eleitoral e nos debates de televisão com João. O PSB foi amplamente
derrotado nas eleições para prefeito nas maiores cidades do Estado.
Se ocorrer de fato, a vitória de Marília poderá marcar o início do declínio do PSB como partido nacional de médio porte. Em 2012, liderado por Eduardo, pai de João, o PSB conquistou 433 prefeituras. Em 2016, sem Eduardo que morrera, 405. Agora, 250.
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