Pela
estatística, é difícil afirmar que há repique, mas é fácil saber o que fazer
para evitá-lo
Depois
de semanas de despreocupação e, em muitos casos, de negligência com as medidas
de segurança sanitária, subitamente o
país volta a se ocupar da epidemia. A onda é falar de “segunda
onda”, repique
de infecções e mortes que estaria ocorrendo no Brasil.
Segundo
alguns, seria algo parecido com os Estados Unidos, onde jamais houve controle
do espalhamento da infecção, mas apenas uma redução do ritmo do número de
mortes, que, no entanto, voltou a acelerar já por duas vezes.
Já
se pode dizer que há “segunda onda” no Brasil? O que isso significa? Os dados
são suficientes e persistentes para dizer que há um aumento do crescimento do
número de internações, casos e mortes?
Francamente,
a estatística não diz muito. Entre epidemiologistas com os quais este
jornalista costuma conversar, uma meia dúzia, quase todos dizem que não é
possível afirmar grande coisa, mas “evidências anedóticas” (histórias, relatos
parciais) “preocupam”, tais como alertas de médicos e de administradores de
grandes hospitais.
Seja
como for: 1) todas as medidas de precaução continuam valendo; o relaxamento era
um perigo terrível, com ou sem “segunda onda”; devem ser levadas a sério; 2)
não parece haver dados suficientes para que se tome medida mais drástica
alguma, o que, de resto, poderia ser contraproducente.
Hospitais
particulares dizem faz
mais de semana que internaram mais doentes. Alguns poucos
especialistas afirmam peremptoriamente que há “segunda onda”, sem especificar
bem do que se trata, porém.
As
estatísticas de casos suspeitos, internações, doentes na UTI ou sob ventilação
mecânica de fato apontam alguma alta na cidade de São Paulo. A média móvel de
sete dias de internações no estado de São Paulo, que vinha em queda fazia
tempo, deu um salto notável no dia 17, em particular na Grande São Paulo, o que
não se via fazia muitas semanas.
Os
dados recentes de doença e morte têm ainda mais ruídos do que de costume. Como
se sabe, de 6 a 11 de novembro, ocorreram problemas no sistema nacional de
registros de Covid-19, o que embananou a série de dados.
Além
do mais, houve mudança de critério de confirmação de casos e mortes, diz o
governo de São Paulo. Casos que ocorreram durante a epidemia foram agregados
agora às estatísticas (221 mortes extras, segundo o governo paulista). Assim,
os dados de casos (sempre imprecisos e variáveis em excesso) e de mortes
parecem difíceis de interpretar desde o dia 5 e assim devem permanecer por mais
alguns dias.
Ressalte-se
que não é bem assim com o aumento recente de internações, dados de hospitais
privados e da prefeitura paulista. Os dados dos hospitais parecem indicar pelo
menos uma marola paulista.
Como
não sabemos bem do que se trata, o aparente repique dos números serve de alerta
renovado: não se pode relaxar no uso de máscaras e na limpeza, não se pode
fazer aglomeração, festa ou maluquice pior.
Uma
“segunda onda” ou mesmo apenas “marola forte” seriam um desastre humano e
econômico. Não seria preciso decretar mais isolamentos, fechamentos etc. para
que a atividade econômica desandasse. O medo já basta para causar estrago.
Basta ver o movimento de restaurantes ou, pior ainda, a tentativa de reabrir
cinemas.
É possível fazer o essencial para segurar essa, por ora, ameaça sinistra de repique. É preciso um pouco mais de persistência. Pode ser que o começo do fim da calamidade esteja próximo, com a esperança de vacinas. Mas, até lá, o relaxamento pode provocar um desastre evitável.
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