Biden
avança e poderá ser eleito hoje
Nada
pior para a democracia do que o eleitor concluir que seu voto não vale nada. Se
não vale, por quê coonestar uma farsa? A mais recente contribuição do
presidente Donald Trump para enfraquecer a democracia em seu país foi seu
triste e melancólico discurso feito ontem no início da noite.
Pouco
antes, Joe Biden, o candidato Democrata que poderá ser eleito nas próximas
horas, pedira calma aos americanos impacientes com a demora na apuração dos
votos. Sua fala foi curta. Mas nela houve espaço para que Biden dissesse que
“ninguém vai nos tirar nossa democracia, nem agora nem nunca”.
Em
contraste com o pronunciamento de estadista de Biden, Trump escandalizou o
mundo ao apontar fraude na eleição que estava preste a perder. O presidente
afirmou que a eleição está sendo roubada e chamou seus adversários de
corruptos. Voltou a pedir à justiça que interrompa a apuração dos votos.
Patético.
A
América admira vencedores. Quem perde merece desprezo. Candidato derrotado vira
um pato manco até transferir o cargo ao seu sucessor. Depois sequer pato ele é.
Os principais líderes republicanos evitaram comentar o discurso de Trump.
Nenhum até esta manhã o havia endossado.
Trump
estava visivelmente abatido. Limitou-se a ler durante mais de 20 minutos as
folhas de papel que seus assessores lhe entregaram na última hora. Sua célebre
arrogância ficou para trás. O gestual, pobre. Não foi um discurso golpista
porque lhe faltou vontade ou coragem para incitar seus seguidores a se
rebelarem.
Não
desafiou ninguém. Apenas marcou posição. Melhor: renovou a posição que adotou
desde sempre de desqualificar por antecipação os votos que lhe fossem
contrários. Sua mensagem foi direta e simples: se eu ganhar, tudo ok, o sistema
eleitoral funcionou. Se perder, fui roubado. Será o triunfo de um sistema
podre.
Os
americanos não ouviram tudo o que ele disse. Ao se darem conta do festival de
mentiras ditas por Trump e de denúncias vazias, sem provas, as três maiores
redes de televisão dos Estados Unidos encerraram as transmissões. Trump ficou
falando sozinho para um grupo de jornalistas convocados para assisti-lo.
Ele
jamais telefonará para Biden parabenizando-o pela vitória quando ela se
consumar. Seu propósito é impedir que se consuma mediante recurso à Suprema
Corte. Para ser coerente com seu comportamento até aqui, é provável que
desrespeite outros costumes, como o de comparecer à posse do seu sucessor.
O
trumpismo não morrerá com o fracasso do seu fundador. Mas Trump, em breve, será
uma triste página virada na história dos Estados Unidos.
Falta
de sorte ou de discernimento
De
quem foi a falta de sorte ou de discernimento? Bolsonaro gravou um vídeo de
apoio a Celso Russomanno (Republicanos), candidato a prefeito de São Paulo.
Desde então Russomanno só faz cair nas pesquisas de intenção de voto. Sua
rejeição só cresce.
Bolsonaro
gravou um vídeo de apoio a Marcelo Crivella (Republicanos), prefeito do Rio e
candidato à reeleição. Se antes já não ia bem, Crivella só fez piorar. Cai nas
pesquisas como uma pipa desgovernada. É o campeão de rejeição.
O
Rio é reduto eleitoral da família Bolsonaro. Carlos, o vereador, e sua mãe,
ex-vereadora, são candidatos a uma vaga na Câmara Municipal. Outro dia, Carlos
sugeriu que sua reeleição estava a perigo. Os dois deverão se eleger com o
apoio das milícias.
O
candidato de Bolsonaro a prefeito de Belo Horizonte ainda não conseguiu passar
da casa dos 4% nas intenções de voto. O candidato dele a prefeito de Manaus
também não. No Recife, o que mais se identificou com Bolsonaro ficou para trás.
Em
Fortaleza, todo mundo sabe que o Capitão Wagner (Pros) é o candidato de
Bolsonaro. Mas o capitão evita falar disso e não fala de Bolsonaro. Na pesquisa
Datafolha divulgada ontem, caiu de 31% para 29%, em empate técnico com Sarto,
candidato do PDT.
Ou Bolsonaro não soube escolher seus candidatos ou os candidatos não souberam escolher o seu padrinho. Vamos que vamos.
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