Carbono
de Trump, Bolsonaro está atento às lições do mestre da trapaça política
Em
1983, o colunista Zózimo
Barrozo do Amaral noticiou que o empresário americano Donald
Trump e o libanês-brasileiro Naji Nahas estavam se associando numa empreitada.
A firma ainda não tinha nome. Zózimo, conhecedor das vísceras da dupla e pela
eufonia de seus nomes, sugeriu: "Trampolinagem". Você sabe: golpe,
mentira, trapaça.
Era
1983, lembre-se. Seis anos depois, em 1989, os negócios de Naji Nahas quebraram
a Bolsa de Valores do Rio. Ela nunca mais voltou a existir. E, agora, ao tentar
ganhar uma eleição no grito, Donald Trump pode estar quebrando a espinha dos
EUA.
Em
Brasília, do banquinho onde se senta sobre as traseiras e saliva ao ouvir a voz
do dono, Jair Bolsonaro acompanha, temeroso e extasiado, a eleição americana.
Por um lado, o resultado das urnas o assusta --é uma amostra do que também pode
esperá-lo por aqui, embora ele, precavido, esteja dedicando todo o seu primeiro
mandato a fazer campanha com dinheiro público para assegurar um segundo
mandato. Por outro, está recebendo uma aula de trampolinagem eleitoral, à base
de coices na democracia.
Não
é que Trump e Bolsonaro sejam contra a alternância do poder. Eles gostaram
muito quando chegaram a ele pela via eleitoral e tiveram suas posses
asseguradas pelos antecessores, com votos de boa sorte dos adversários que
derrotaram. Só que, por seus atos no exercício do poder, não podem mais se dar
ao luxo de largá-lo —para não serem processados por crimes contra as
instituições, a inteligência e a vida.
Alguém
ainda se lembra do papel carbono? Servia para se copiar um texto escrito à mão
ou à máquina e, como só existia em função de um original, era usado uma vez e
logo descartado, embolado e atirado à cesta. Bolsonaro é um reles carbono de
Trump e, com o original em grave perigo, precisará copiar também as apostilas
do pós-doc em trampolinagem que Trump está oferecendo.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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