Plano
de vacinação dá horizonte para fim da ajuda social
Mesmo
que sob risco de tornar-se ainda mais minoritária na reforma ministerial
prevista para depois de fevereiro, a ala fiscalista do governo submergiu. Seria
prudente que pelo menos se recolocasse no debate sobre a necessidade de
implementação de uma nova fase do auxílio emergencial. A ala política do
Executivo está deixando rolar a discussão, que tem permeado os contatos entre
os governadores e os candidatos a presidente da Câmara e do Senado. E pode sair
fortalecida do recesso do Congresso.
A
equipe econômica, por sua vez, corre o risco de chegar à mesa de negociação já
com o prato feito e sendo servido. Neste caso, teria pouco a dizer, além de
reiterar a premissa de que a conta precisa respeitar o teto de gastos.
A
situação no Amazonas, que vive uma segunda onda de covid-19 com consequências
tenebrosas, aumentou a preocupação de diversos governadores. O episódio
evidenciou a necessidade de o Estado assegurar os meios para se combater o
coronavírus e também os efeitos da crise, com a preservação de empregos e da
renda do cidadão mais pobre.
“Vamos ter um crescimento do desemprego e da miséria muito grande. É preciso o auxílio direto e também a prorrogação do programa que reduz a jornada e o salário”, ponderou um governador, citando a iniciativa formulada pelo Ministério da Economia que, segundo a pasta, já promoveu a celebração de acordos entre 1,5 milhão de empresas e 9,8 milhões de trabalhadores.
Isso
não é pouco. Todas as partes envolvidas fizeram sacrifícios e certamente
estariam em piores condições, se a medida não tivesse sido implementada. Outras
iniciativas da área econômica foram positivas, mas os governadores querem mais.
“O
Brasil gastou muito durante a pandemia, mas o estrago poderia ser muito maior”,
resume outra liderança, também influente no Parlamento e entre seus colegas
governadores. Para essa fonte, o risco de recrudescimento da crise tem nome e
sobrenome: caos social.
Aliás,
autoridades do governo federal também citavam esse perigo no início da pandemia,
mas a expressão foi caindo em desuso na Esplanada dos Ministérios e no
Planalto.
Um
outro chefe de Executivo estadual argumenta que parcelas adicionais do auxílio
emergencial seriam essenciais para dar tranquilidade até uma retomada mais
perceptível da atividade econômica, o que agora se torna mais factível em razão
do início da vacinação contra a covid-19. “É fundamental que se restabeleça o
auxílio. A vacina é o início do fim, mas é o início. Não é o fim. O governo
federal precisa avaliar isso até para que continuemos a preservar a economia,
enquanto salvamos vidas.”
O
tema está presente nas reuniões de governadores com os candidatos a cargos nas
mesas diretoras do Legislativo. Alguns dos postulantes, inclusive, já
levantaram a bandeira e prometem colocar em votação proposta de recriação de um
novo auxílio financeiro emergencial, de R$ 300 mensais, já a partir de
fevereiro.
A
portas fechadas, até mesmo os candidatos governistas dizem estar sensíveis aos
apelos de que o Parlamento tome a dianteira. Eles sinalizam fidelidade ao
presidente Jair Bolsonaro, e não ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pois é
o presidente da República quem está colocando em jogo seu prestígio político ao
entrar na campanha para fazer os sucessores de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência
da Câmara e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Até por isso a
equipe econômica deveria estar mais ativa nas negociações, as quais não tiraram
férias.
Nesta
equação, o início da vacinação se tornou um novo fator a ser considerado.
Governadores passaram a argumentar que, como o programa de imunização já
começou para valer, uma possível saída seria manter o auxílio até a conclusão
da vacinação do grupo prioritário, o que ocorreria em abril. Agora existe, pelo
menos, um horizonte.
Eles
têm algumas contas na ponta do lápis. Até abril, 25% da população seria
vacinada, abrindo espaço para a reabertura de diversas atividades econômicas.
Além disso, mais parcelas da população poderiam ser vacinadas rapidamente, se o
país tiver todos os insumos necessários e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) liberar a distribuição dos imunizantes fabricados dentro do
país. Isso porque, de saída, a produção nacional de vacinas contra covid-19
poderia chegar a 80 milhões de doses por mês. A conta leva em consideração uma
capacidade de produção do Instituto Butantan de 30 milhões de doses por mês,
outras 30 milhões de doses pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ainda 20
milhões de unidades da Sputnik pela União Química.
Enquanto
isso, a definição da pauta de votações permanece sendo objeto das negociações.
O ano legislativo nem começou para valer e o Palácio do Planalto já sinalizou
aos seus aliados no Congresso que não apoiará nenhuma medida que possa
prejudicar a camada mais pobre da população. Mesmo que seja alguma iniciativa
defendida pela área econômica.
A
queda da popularidade do presidente serviu de alerta e tende a fortalecer os
argumentos da ala política do governo. Se o atual presidente do Senado
tornar-se mesmo ministro depois de emplacar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como seu
sucessor, este grupo dentro do Executivo ficará ainda mais forte.
Principalmente se o ministro Rogério Marinho, atualmente na pasta do
Desenvolvimento Regional, assumir algum cargo de primeiro escalão dentro do
Palácio do Planalto.
Quando um país do porte do Brasil precisa pedir socorro a um governo aliado para poder transportar oxigênio a uma unidade da federação, é preciso refletir sobre a eficácia dos esforços de integração nacional e também sobre a falta de aeronaves capazes de executar missões desse tipo. O que ocorreu no Amazonas reforça os argumentos do Ministério da Defesa de que todo corte no orçamento de projetos estratégicos das Forças Armadas envolve riscos à segurança nacional.
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