Ao
longo dos séculos XIX e XX, o papel do Estado esteve no centro das discussões
sobre modelos de intervenção e desenvolvimento. Há uma dimensão ideológica que
coloca liberalismo versus estatismo, mas há também a questão da eficiência
global da economia e sua produtividade e dos impactos no orçamento público e
suas prioridades.
As tarefas necessárias para o funcionamento da sociedade e da economia podem ser supridas pela ação direta do Estado, pelo terceiro setor, como hospitais filantrópicos e as APAES, por exemplo, ou pela iniciativa privada. O desfaio é conseguir o melhor e mais eficiente mix que potencialize a efetividade das ações e a produtividade dos recursos.
Na
atual crise fiscal e diante da evolução da economia, o papel do Estado no
Brasil deve ser muito mais de regulador, coordenador e estimulador. Não faria o
menor sentido em pleno século XXI ter uma VALE estatal produzindo minérios ou
uma EMBRAER produzindo aviões. Quando o serviço é público ou há monopólio
natural e se delega à iniciativa privada, devem existir agências regulatórias
robustas, fortalecidas e eficientes para defender os usuários e a estabilidade
contratual, oferecendo segurança tanto à sociedade, quanto aos investidores.
O
Governo Federal almeja privatizar a Eletrobrás e os Correios. O Governo de
Minas pretende vender a CODEMIG e o do Rio, a CEDAE, entre tantas outras
propostas de privatização.
Na
última semana, foram tomadas atitudes contraditórias. Por um lado, aprovou-se a
autonomia do Banco Central, medida positiva para blindar o agente que defende a
nossa moeda de intervenções políticas voluntaristas e desastrosas. Por outro
lado, a ofensiva política contra a autonomia da ANVISA na questão das vacinas,
abala o prestígio de nossas agências regulatórias como um todo. Para a
privatização da Eletrobrás ou dos Correios, que apoio, precisamos de uma ANEEL
e de uma ANATEL transformada em ANACOM, fortes, autônomas, profissionalizadas e
prestigiadas. A população não quer saber se o fornecimento de energia ou o
abastecimento de água é feito por uma empresa estatal ou privada. Quer, na
verdade, eficiência, qualidade e preço justo.
Quanto à CODEMIG, tenho minhas dúvidas. Ela gera soluções, não problemas. Tem uma estrutura levíssima para administrar os direitos minerários da exploração do nióbio, minério do futuro, que será cada vez mais valorizado. É uma das poucas fontes de financiamento de investimentos públicos em Minas. Ainda mais que se dará o famoso caso de “vender a geladeira para pagar comida”.
A parceria entre Estado e iniciativa privada pode ser, se bem construída, uma importante alavanca para a retomada do crescimento no Brasil pós-pandemia.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
Nenhum comentário:
Postar um comentário