Presidente
do DEM reafirma a independência do seu partido
Se o deputado Rodrigo Maia (RJ) não tivesse anunciado sua saída do partido com tiros, relâmpagos e trovoadas, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente nacional do DEM, estaria a essa altura comemorando a nomeação de João Roma para ministro da Cidadania, cargo ambicionado por 9 de cada 10 políticos porque seu ocupante é quem manda no programa Bolsa Família.
ACM
Neto e Roma são amigos desde que se conheceram em Brasília nos anos 90 – o
primeiro como deputado federal pelo Partido da Frente Liberal (PFL), o segundo
como membro da Executiva do partido. Foi amor à primeira vista. Pernambucano,
Roma foi trabalhar no gabinete de Neto na Câmara e, depois, a convite dele,
mudou-se para a Bahia decidido a fazer política.
Os
dois eram carne e unha, a ponto de Neto ser padrinho do filho de Roma. Entre
2013 e 2018, Roma chefiou o gabinete de Neto na prefeitura de Salvador. Mas
quando se sentiu pronto para disputar o mandato de deputado federal, Neto
preferiu que ele deixasse o DEM e se filiasse ao Republicanos. Na Bahia, pelo
menos, Republicanos e DEM sempre andaram juntos a serviço de Neto.
Era para Roma virar ministro de Bolsonaro sem macular a imagem de independência do DEM e do seu presidente. Uma vez que Bolsonaro emplacasse Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) na presidência do Senado, o Republicanos, um dos partidos do Centrão, bancaria a indicação de Roma. Neto assistiria tudo à distância segura.
Mas
deu errado porque Maia denunciou a traição de Neto que, na última hora, retirou
o DEM do bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP), candidato a presidir a Câmara.
A entrada de Roma no governo Bolsonaro tornou-se então nitroglicerina pura para
Neto. Afinal, como insistir com a história de que não traiu Maia ao ajudar
Bolsonaro e o Centrão a elegerem Lira?
A
primeira coisa que Maia disse ontem foi que Roma ministro é a prova de que Neto
entregou o DEM a Bolsonaro. A primeira coisa que Neto disse foi que lamentava a
aceitação, por Roma, do convite para ser ministro porque ela desconsiderou a
relação política e “a amizade pessoal” que os dois construíram juntos “ao longo
de toda a vida”. Neto disse mais sem que sua face tremesse:
–
Se a intenção do Palácio do Planalto é me intimidar, limitar a expressão das
minhas opiniões ou reduzir as minhas críticas, serviu antes para reforçar a
minha certeza de que me manter distante do governo federal é o caminho certo a
ser trilhado, pelo bem do Brasil.
Neto
é candidato ao governo da Bahia. O PT governa o Estado há 14 anos.
Salvador é considerada a capital mais anti bolsonarista do país. Neto teme
perder votos se muitos se convencerem ali que ele firmou uma aliança branca com
Bolsonaro. Recentemente, Neto afirmou que não descarta o apoio do DEM a nenhum
dos atuais pré-candidatos a presidente da República.
Bolsonaro
havia dito a alguns dos seus ministros que até a próxima terça-feira assinaria
a nomeação de Roma, mas antecipou-a porque soube que ele estava sob pressão de
Neto para que recusasse o cargo. Nas últimas 48 horas, Roma escondeu-se na
Bahia fugindo de Neto. Tão logo sua nomeação foi publicada no Diário Oficial,
declarou:
–
ACM Neto está aborrecido com minha decisão. Estou sendo afetado por uma briga
entre Neto e Rodrigo. Eu precisava cumprir a missão do meu partido. O momento é
de união de todos e precisamos trabalhar para ajudar aqueles que mais precisam.
A missão desse Ministério é não deixar ninguém para trás.
Ó
paí, ó: Roma prestou mais um bom serviço a Neto ao dizer o que disse. Se não
for mal agradecido, Neto o perdoará. Tem gente que mente que nem sente.
DEM cada vez mais próximo de Bolsonaro e distante de Maia
Como
segurar Mandetta
A
julgar por um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo que ouviu os
26 deputados federais do DEM, o partido de ACM Neto, ex-prefeito de Salvador,
está cada vez mais próximo de Jair Bolsonaro e cada vez mais distante de
Rodrigo Maia.
Quem
pensa em abandonar o DEM junto com Maia que já anunciou sua saída do partido? –
perguntou o jornal. Nenhum deputado respondeu que sairá; 22 responderam que não
sairão; e quatro preferiram não responder.
Então
o jornal perguntou: quem admite apoiar a reeleição de Bolsonaro no ano que vem?
Seis admitiram apoiar; dois disseram que não apoiarão; 14 responderam que não
descartam o apoio; e quatro não responderam.
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, se reunirá com Neto em breve. Parece decidido largar o DEM se o partido apoiar a reeleição de Bolsonaro. Em troca de sua permanência, Neto cogita lançá-lo pré-candidato a presidente da República.
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