Tributaristas
já têm lista de perguntas sem respostas sobre reforma em tramitação no
Congresso
A
prova maior de que a reforma tributária está sem rumo é a obsessão do
presidente Jair Bolsonaro em reduzir a tributação dos combustíveis
sem conexão alguma com as propostas que tramitam no Congresso
Nacional de mudança no caótico sistema tributário brasileiro.
Uma
dessas propostas, enviada pelo próprio governo, cria a Contribuição sobre Bens e Serviços para substituir
o PIS/Cofins,
os dois tributos que o presidente quer diminuir para diminuir o preço do
diesel, uma demanda dos caminhoneiros.
Pelas
três principais propostas tributárias em tramitação no Congresso (duas PECs e o
PL do CBS) esse movimento desejado por Bolsonaro jamais seria possível
tecnicamente. Bolsonaro também avançou em seara que não é a sua e divulgou
nesta sexta-feira projeto que altera a forma de tributação do ICMS de combustíveis, imposto dos governadores.
Com uma lista bilionária de isenções tributárias para compensar a redução do PIS/Cofins, o presidente até agora não teve coragem de pegar a sua caneta bic e botar a assinatura para cortar alguma delas e compensar a redução da arrecadação com a medida, uma exigência das leis de Responsabilidade Fiscal e de Diretrizes Orçamentarias (LDO) de 2021. Nada agradou.
A
compensação teria de ser ou pela via de aumento de arrecadação ou corte de
despesas. No primeiro caso, só há dois caminhos: aumentar alíquota de impostos
ou passar a tesoura nas isenções e outros benefícios tributários.
Cortar
despesas não dá nem para contar, diante da pouca disposição vista nos últimos
seis meses para buscar espaço fiscal para dar o auxilio aos mais pobres
do País dentro do Orçamento.
A
solução que o presidente Jair Bolsonaro botou a área jurídica do governo para
quebrar a cabeça é garantir a medida justamente sem precisar compensar. Tudo
isso sem falar no problema central da discussão de prioridades quando o
cobertor é curto. Vale a pena perder bilhões de arrecadação com essa
desoneração? O próprio presidente disse e repetiu que o Brasil está
quebrado.
Esse
tipo de articulação sabota qualquer tentativa de mudança mais profunda da
reforma tributária, que continua com um cenário nebuloso mesmo depois do
anúncio do “acordo” político entre os presidentes da Câmara e do Senado para
ela ser aprovada em oito meses.
O
curioso é que, se algo andar na reforma tributária, teremos os mesmos dilemas
do ano passado. Afinal, nada foi resolvido ano passado. Cenário que faz com que
os defensores da não reforma ganhem espaço. E eles são muitos.
Com
esse quadro nebuloso, tem gosto para tudo. Focar na PEC 45 da Câmara, reforçar
o substitutivo elaborado pelos Estados, colocar as fichas na PEC 110 do Senado,
esquecer as PECs e concentrar no CBS do ministro Paulo Guedes,
começar pela desoneração da folha com uma nova CPMF ou
dar o pontapé inicial numa reforma que reduza os privilégios dos mais ricos
para beneficiar os mais pobres.
Na
semana passada, o mercado financeiro tremeu com ruídos sobre aumento da
tributação dos bancos.
Os
tributaristas que acompanham no detalhe a tramitação da reforma já fizeram até
uma listinha das perguntas sem respostas depois do acordo que manteve o
funcionamento da comissão mista de reforma, sob o comando do senador
tucano Roberto Rocha (MA) e relatoria do deputado Aguinaldo
Ribeiro (PB).
É
certo que Ribeiro não vai querer apresentar agora o seu relatório para a
votação do parecer só em outubro e muito menos deixar que o texto comece a
tramitação pelo Senado. Da Câmara ou Senado, o texto terá que seguir.
Na
lista: indefinição dos próximos passos da tramitação; incógnita se Aguinaldo
vai mesmo apresentar o relatório; ressurreição da PEC 110 e suas marcantes
diferenças com a PEC 45; a nova CPMF, que pode vir tanto para bancar aumento de
gastos como para reduzir a tributação da folha de salários; a PEC 128 de
reforma que corre por fora; a CBS, que é a preferida Guedes, mas tem aumento da
carga tributária; e o “esquecimento” da ideia da tributação de dividendos.
Por enquanto, a reforma tributária vive uma baita crise de identidade.
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