João Doria Jr. é candidato a presidente da República desde 2018, talvez antes. Quando decidiu adentrar a política, o hoje governador de São Paulo traçou uma rota rápida que o levaria, no curto intervalo de seis anos, ao Palácio do Planalto. Até aqui, os passos deram certo. Mas agora o campeonato será jogado numa outra liga, bem mais dura.
A
primeira mostra de que o jogo é bruto veio nos primeiros meses após a eleição.
Logo depois do Bolsodoria, o tucano passou a ser hostilizado pelo presidente,
pelos filhos e pelo entorno radicalizado.
A
razão é simples: o bolsonarismo só pensa na reeleição, e a ordem é aniquilar no
nascedouro qualquer potencial adversário. Nesta quinta-feira, a milícia virtual
do presidente, deputados federais à frente, começou a alvejar ninguém menos que
a empresária Luiza Trajano, por ver nela uma potencial candidata, graças a sua
campanha pela vacinação imediata de todos os brasileiros. O jogo é bruto.
Doria não é alguém conhecido exatamente pela calma nem por seguir os ritos da política, que incluem muito diálogo antes das ações. Na segunda-feira, foi anfitrião de um jantar que reuniu figurões tucanos, em que o cardápio servido foi a ideia de que ele assumisse o comando da sigla de entrada, sua candidatura presidencial como prato principal e uma nova tentativa de expulsar Aécio Neves de sobremesa.
Caiu
como um tijolo no estômago de parte dos presentes, sobretudo nas bancadas de
deputados e senadores, que ato contínuo decidiram manter Bruno Araújo na
presidência da legenda e lançar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite, como alternativa a Doria internamente.
A
surpresa foi que Leite topou o jogo e não ficou no muro, poleiro de predileção
dos tucanos desde sempre. Surge, então, o estranho no ninho com que Doria não
contava. Ao menos não agora.
Aliados
do paulista dizem que o seu objetivo com o jantar da segunda-feira era instar o
partido a adotar uma postura firme de oposição a Bolsonaro, e não antecipar a
própria candidatura.
Será
mesmo? Dados os porta-vozes da ideia (o ex-ministro Antonio Imbassahy e o
deputado federal paulista Samuel Moreira, ambos ligadíssimos a ele), ninguém
acredita que o script não tenha sido previamente organizado pelo meticuloso
Doria.
O
tiro saiu pela culatra, mas ainda assim é temerário apostar que ele vá deixar a
sigla só porque apareceu um oponente. Doria sempre repete que é “filho das
prévias”, numa alusão aos dois processos seletivos internos que venceu, mesmo
sem ser versado nas liturgias da política partidária.
Leite,
por sua vez, saiu de vez a campo. Além da frase de alta octanagem política que
cunhou, ao afirmar que não misturou seu nome ao de Bolsonaro (um tiro no
Bolsodoria), aceitou a convocação de deputados e senadores e vai rodar o país.
Em entrevista que fizemos com ele ontem na CBN, assumiu
a candidatura sem tergiversar e se disse preparado para os ataques que receberá
(já está recebendo, corrigiu) dos gabinetes do ódio bolsonaristas.
Se
os dois levarem adiante a disposição de se candidatar, o PSDB pode ter
primárias pela primeira vez em sua história. Mesmo com guerras internas no
passado, algumas com direito a dedo no olho, sempre prevaleceu um arranjo de
cúpulas que evitou esse tipo de escolha.
Dada
a deterioração programática e o desgaste político do PSDB desde que Aécio Neves
enfiou o partido no pântano do JBS Gate, e desde que Geraldo Alckmin foi
reduzido a nanico em 2018, uma disputa poderia oxigenar e dar algum rumo a uma
sigla que virou coadjuvante apagada no cenário nacional.
Isso depende, no entanto, de que quem perder aceite a derrota, e de que a contenda não se dê em níveis bolsonarescos. É o que vamos começar a assistir a partir de já, porque essa campanha também já começou.
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