Quanto
mais mortes, mais a Nação se une e o bolsonarismo se isola, tosco e incendiário
Montanhas
de fake news desvirtuam a internet, vídeos de sujeitos com boinas militares e
caras de milicianos ameaçam guerra à bala, o ministro da Justiça usa a Lei de Segurança Nacional contra críticos do
presidente Jair Bolsonaro... Essas investidas, que não são inocentes nem
isoladas, fazem parte da alma autoritária do bolsonarismo e enfrentam crescente
resistência de todos os lados.
Centenas
de banqueiros, empresários e economistas criticam o governo e rechaçam o “falso
dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável”. O
presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, pediu aos EUA para negociarem vacinas excedentes com o Brasil. E 62 dos
81 senadores assinaram uma moção liderada por Kátia Abreu (TO)
implorando ajuda à comunidade internacional.
Todos se mexem para cobrir o vácuo do presidente e não dá para acusar de “comunistas”, “esquerdistas” e “petistas” gente como Pacheco e Kátia, Roberto Setúbal, Pedro Moreira Salles, Pedro Malan... Será que são esses os alvos do bolsonarista ignorante, valentão, com pose de militar, mas linguajar de miliciano? Que provoca “esse pessoal da canhota, que quer derrubar o nosso presidente”: “Deixa eu dizer um negocinho pra vocês. Ele não tá sozinho, não, tá? Junta o que vocês tiver de melhor e tenta” (sic sic sic).
Ao
falar em “caos”, “ação dura”, “esticar a corda”, Bolsonaro demonstra desespero
e tenta radicalizar ainda mais os seus radicais. Isso, porém, equivale a
demonstrar fragilidade e a afastar a direita consciente, cada vez mais
indignada com ele e seu governo na pandemia. Se o desespero de Bolsonaro é
porque a realidade ameaça seu pescoço e sua reeleição, o do Brasil é por um
motivo nada personalista: o pânico por leitos faltando, oxigênio e remédios
escasseando, vacinas devagar, quase parando.
O
negacionismo de Bolsonaro e da sua turma não resiste às cenas tétricas de
famílias destroçadas pela dor e pelo luto, aos doentes sem leitos e
assistência, ao número cada vez maior de jovens mortos, aos cadáveres no chão
de hospitais, seja no Piauí, seja no DF, a poucos quilômetros dos palácios de
Bolsonaro.
A
estratégia dele, porém, continua sendo a de falar absurdos e empurrar a culpa
para os outros, insistindo em mentiras: não fez nada (e não fez mesmo...)
porque Supremo impediu; só atrapalhou tudo (e atrapalhou muitíssimo...) para
tentar salvar a economia; gastou dinheiro público com cloroquina (e gastou
bastante, sim...) porque só o “tratamento precoce” salva. O céu está cheio de
“salvos” pela cloroquina...
A
essa estratégia Bolsonaro adicionou uma aposta: fingir que apoia as vacinas
desde criancinha e atrair os louros pelas doses que estão vindo. Como se fosse
possível esconder que o Brasil só está realmente vacinando por causa da
Coronavac (“a vacina chinesa do Doria”) e que seu governo se pendurou num único
imunizante – a Oxford-AstraZeneca, que tem atrasado – e desdenhou de Pfizer,
Moderna, Janssen, Sputnik V...
Assim
como o governo fez comemoração patética para receber 2 milhões de doses da
Oxford, quer fazer oba-oba político por acertar com a Pfizer nove meses depois
– e passando ridículo no mundo: não bastasse ter o quarto ministro na pandemia,
Bolsonaro agora tem dois ao mesmo tempo. Quem tem dois não tem nenhum. E o que
dizer do capitão criando um ministério para premiar o general pelos péssimos
serviços prestados?
A divisão do País não é entre Bolsonaro e Lula, direita e esquerda, mas sim entre um bolsonarismo tosco e incendiário e todo o resto que, independentemente de ideologia, usa outro tipo de armas: inteligência, competência, defesa da economia e da vida. Cada um escolhe o seu lado. E que depois preste satisfações à história e ao Brasil.
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