O
corona, porém, não atendeu a meus apelos
Em
julho, quando o presidente anunciou que tinha contraído a Covid-19, escrevi a
coluna "Por
que torço para que Bolsonaro morra". Ganhei uma enxurrada de
emails irados e um inquérito com base na LSN. Riscos da profissão.
A
título de experimento mental, convido o leitor a adentrar no fantástico mundo
dos contrafactuais e imaginar o que teria acontecido caso o vírus tivesse
atendido a meu desejo.
Em princípio, nada muito animador. Bolsonaro teria sido substituído pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, que tem ideias parecidas com as do titular e também nutre crenças exóticas (cloroquina) em relação à Covid-19. Mas Mourão, admita-se, vem com uma demão de verniz civilizacional e parece mais disposto a seguir conselhos de especialistas.
De
todo modo, as inclinações naturais do general nem são tão relevantes. Ao
assumir a vaga de alguém que morrera de Covid-19, Mourão não teria alternativa
que não a de declarar guerra ao vírus. Àquela altura, vale destacar, teria sido
possível comprar antecipadamente grandes quantidades de vacinas, que talvez
tivessem evitado as consequências mais catastróficas desta segunda onda que
enfrentamos.
A
própria população teria ficado assustada com a morte precoce do presidente e,
presume-se, não resistiria a medidas de distanciamento social nos momentos em
que elas se mostrassem necessárias.
Em
7 de julho de 2020, o Brasil contabilizava 1.658.589 casos confirmados da
doença e 66.741 mortes. Hoje, esses números são 11.998.233 e 294.042 e aumentam
rapidamente. Não dá para precisar quantos óbitos teriam sido evitados se
Bolsonaro tivesse sucumbido à moléstia, mas não teriam sido poucos.
O vírus, porém, não atendeu a meus apelos. Para quem gosta de ciência e flerta com a teoria dos muitos mundos, resta o consolo de que existe um universo onde o Sars-CoV-2 levou Bolsonaro e, depois disso, o Brasil se tornou um exemplo no combate à epidemia.
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