Tudo o que Bolsonaro faz segue o critério único da popularidade (ou sobrevivência) imediata
Não
é possível que alguém ainda acredite numa mudança de postura do presidente na
reunião com governadores. Se nem mesmo o mais trivial dos atos de
proteção da vida, o uso da máscara, Bolsonaro consegue defender, pode esquecer
qualquer apoio às medidas de isolamento. A única certeza é que Bolsonaro jamais
tomará uma atitude impopular junto à opinião pública, por mais importante que
seja. Ele não precisa.
Tudo
o que Bolsonaro faz segue o critério único da popularidade (ou, em alguns
casos, sobrevivência) imediata. A política não depende da realidade em
si, e sim das percepções. Bolsonaro e seus cabos eleitorais foram os que
primeiro souberam adaptar essa velha máxima à realidade das redes sociais e dos
aplicativos de mensagens.
No
mundo da comunicação do governo, no entanto, ele sempre foi pró-vacina e nosso
desempenho é causa da inveja mundial. Uma das últimas fake news a que tive
acesso diz que Bolsonaro, num lance de mestre, enganou a “esquerda” e trouxe
especialistas de Israel para comandar a produção de vacina em solo nacional.
Não duvido que a refutação dessa fake news chegue nos próximos dias. Mas os
seguidores já terão esquecido e estarão na próxima. Quem se lembra, hoje, do
milagroso spray nasal, também israelense? (Curiosamente, Israel, um dos países
mais bem-sucedidos no combate ao Covid, usou um mix de lockdown e vacinação em
massa; isso nosso governo não copia).
É
claro que nenhuma estratégia é perfeita. Apesar da bolha de realidade
alternativa produzida pelo bolsonarismo, há fatos que insistem em invadir a
percepção dos eleitores: mortes de parentes, desemprego, queda na renda, altas
dos preços de alimentos e combustíveis.
Mas
o trabalho de associar esses fatos ruins ao governo federal é difícil e
tortuoso. Afinal, como o ministro Paulo Guedes alegou, a culpa do dólar estar
acima de R$ 5 é da esquerda (sempre ela!), que fala mal do competente Bolsonaro
no exterior. A liga de confiança mínima no jornalismo profissional e na ciência
foi perdida.
Em algum momento a realidade cobrará seu preço também na percepção do eleitorado. Ele e todos os seus aliados neste circo de mentiras irão para a vala comum que é seu destino. As armas de comunicação em cujo uso ele foi pioneiro, contudo, continuarão à disposição do próximo astuto e inescrupuloso o bastante para dominá-las. E não precisa nem sequer ocupar a mesma posição no espectro ideológico. Bolsonaro passará, as fake news não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário