Bolsonaro
está perdido, não sabe o que fazer diante de tanta contrariedade. Sua
popularidade está em queda, enquanto a disparada do vírus continua batendo
recordes. A gripezinha não dá trégua. Mesmo antes de terminar, março já é o mês
mais letal da pandemia.
Até
mesmo membros importantes do governo criticam o combate à Covid-19. O ministro
Paulo Guedes admite que o número de imunizados é “muito pouco”. Ele é hoje um
defensor da vacinação em massa para a retomada da economia, tese oposta à que
seu presidente defendia — pelo menos quando ainda não usava máscara.
Dizem que Bolsonaro acuado, como está agora, é um perigo, fica muito agressivo, mais do que normalmente é. E imprevisível, sujeito a surtos, como o de que “só Deus”, de quem se considera íntimo, o tira da Presidência.
Não
custa lembrar que, etimologicamente, “acuado” tem a ver com o lugar do corpo
humano onde o presidente mandou enfiar, quando um repórter tocou no assunto,
“os R$ 15 milhões de leite condensado” que o Palácio gastou na compra do
produto em que o presidente gosta de molhar o pão no café da manhã. Já o filho,
um dos Zeros à esquerda, mandou enfiar no mesmo lugar inadequado as máscaras
contra a Covid-19.
Mesmo
assim, ainda é preferível — a que ponto chegamos — esse Bolsonaro escatológico
àquele que gosta de recorrer à Lei de Segurança Nacional contra quem o critica.
Ao golpe militar de 64, ele só tem uma crítica explícita: “Torturou em vez de
matar”.
O
golpe é seu permanente flerte. Uma de suas recentes manifestações é um aviso,
em tom de ameaça, sobre o que pode acontecer com o país. Pode piorar, ele
adverte: “O terreno fértil para a ditadura é a miséria, a fome, a pobreza, onde
o homem com necessidade perde a razão. Estão esperando o quê? Chegar o momento?
Gostaria que não chegasse, mas vai acabar chegando esse momento”. É uma
mensagem enigmática, mas não difícil de decifrar. Pelo menos um recado é claro:
ele poderá dizer: “Eu avisei”.
O
que mais preocupa é o silêncio dos militares, principalmente dos oficiais
superiores que fazem parte da cúpula do governo, diante do uso que o ex-capitão
faz da marca. Olha o que ele já disse: “O meu Exército não vai para a rua
cumprir decreto dos governadores. Não vai. Se o povo começar a sair de casa,
entrar na desobediência civil, não adianta pedir o Exército, porque o meu
Exército não vai, nem por ordem do Papa”. Acho que nem Caxias, o patrono,
jamais encheu tantas vezes o peito com essa declaração de posse: “O meu
Exército”.
Gostaria
de ouvir o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que tem como tarefa botar
panos quentes, ou seja, consertar para os jornalistas os malfeitos vocabulares
do presidente: “não foi bem isso o que ele quis dizer”, “vocês não estão dando
uma interpretação correta” etc.
O que o general tem a comentar sobre o flerte e sobre essa indevida apropriação do subalterno que, quando vestia farda, nunca fez por merecê-la?
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