Bolsonaro
subestimou a escala que uma pandemia fora de controle pode adquirir, ao crescer
exponencialmente, e os efeitos das mutações genéticas que podem ocorrer com a
covid-19
Com
o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ainda do telhado, por causa de um
processo no qual é réu por apropriação indébita, e seu antecessor, o general
Eduardo Pazuello, despachando do almoxarifado do ministério, está nas mãos do
ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), o destino da
ação do presidente Jair Bolsonaro contra os governadores do Distrito Federal,
da Bahia e do Rio Grande do Sul por decretarem medidas de isolamento social. O
magistrado do STF foi escolhido relator porque é responsável pela ação
apresentada pelo PTB no ano passado, também contra decretos de toque de
recolher.
Com 12 milhões de infectados, o Brasil está se aproximando dos 300 mil mortos pela pandemia, e a principal preocupação de Bolsonaro, na reestruturação do ministério, é encontrar um lugar para o general Pazuello, que cumpriu sua missão negacionista com zelo — perdão pelo trocadilho. Fala-se em criar um Ministério da Amazônia, o que deixaria sem função o vice-presidente Hamilton Mourão. Por mais que o presidente da República negue, suas ações são a principal causa do descontrole da pandemia. Está tudo registrado ao vivo e em cores, ao longo de um ano de ações contra as medidas adotadas por governadores e prefeitos, por recomendação de infectologistas e sanitaristas.
A
grande ironia é o fato de que o Instituto Butantan já entregou 25 milhões de
doses da vacina chinesa Coronavac ao Ministério da Saúde, sendo 8 milhões nos
últimos 10 dias. Até agosto, serão 100 milhões de doses. A Fiocruz, em razão do
atraso na entrega de insumos, somente conseguiu produzir até agora 1,8 milhão
de doses. A primeira remessa de vacinas contra covid-19 oriundas do
consórcio Covax Facility, produzidas na Coreia do Sul, só chegou no domingo: 1
milhão de doses. Mais 9,1 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford produzidas na
Índia ainda são aguardadas. De cada 30 vacinas aplicadas no Brasil, 25 são
fabricadas pelo Butantan.
Sem
isso, tudo seria muito pior. Num país normal, o fato deveria ser objeto de
agradecimento do presidente Jair Bolsonaro ao governador de São Paulo, João
Doria (PSDB), que fez o que pode para se preparar para a pandemia; e aos
paulistas, que estão deixando de receber as vacinas na quantidade e
velocidade que necessitam para con- trolar a covid-19. Bolsonaro demitiu seu
então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, por causa da colaboração com Doria
no começo da pandemia. Desde então, ambos vivem às turras.
A aposta de Bolsonaro sempre foi responsabilizar o Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e prefeitos pela crise econômica, com um discurso voltado para quem está perdendo suas fontes de renda ou tendo prejuízos nas atividades empresariais. Acontece que Bolsonaro subestimou a escala que uma pandemia fora de controle pode adquirir, ao crescer exponencialmente, e as consequências das mutações genéticas que podem ocorrer, como aconteceu em Manaus, agravando a situação: além do grande atraso na vacinação, faltam leitos, medicamentos e oxigênio em vários hospitais do país. E o governo federal está sendo responsabilizado por isso.
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