A carta
aberta que juntou banqueiros e economistas em defesa de medidas efetivas de
combate à pandemia foi interpretada no governo como um “movimento político”
contra o governo Jair Bolsonaro nessa fase mais dura da pandemia da covid-19.
Num momento de queda da popularidade, o documento, que começou a ser construído
em conversas de economistas em grupos de Whatsapp, ganhou força no fim de
semana com mais de 500 assinaturas e causou enorme desconforto, mas o
presidente não mudou a estratégia de repetir o discurso contrário ao lockdown –
que tem endosso nos setores empresariais que o apoiam.
A expectativa do governo é que esses setores também se posicionem contrários às medidas de restrição de mobilidade, apontadas por autoridades sanitárias como essenciais para que o colapso hospitalar não seja disseminado por todo o País. Não há sinais de que Bolsonaro vai abandonar esse discurso porque ele está convencido de que as medidas de isolamento são uma “armadilha” para afundar ainda mais a economia, sem chances de recuperação para garantir a sua reeleição. Bolsonaro já foi avisado do quadro extremamente ruim da economia, com impacto na arrecadação, das vendas e queda do PIB no primeiro semestre. O presidente vê nas medidas de restrições um entrave a mais.
O
governo prevê que a situação da pandemia no País vai piorar muito ainda nas
próximas três semanas e, até lá, o presidente terá de administrar a “fervura”
política que vai aumentar no setor produtivo e no Congresso. Em 30 dias, a
expectativa no governo é que o avanço da pandemia comece a ser travado e, em 60
dias, o quadro já seja outro, com a aceleração da vacinação da população pelo
aumento da produção no Brasil e da chegada das novas vacinas que estão sendo
compradas, entre elas 138 milhões da Pfizer e da Janssen.
Para
auxiliares do presidente, aqueles que assinaram a carta são mais “dos mesmos críticos
de sempre” para desgastar o governo e reforçar o discurso de uma saída de
centro no quadro de polarização política entre Bolsonaro e o ex-presidente
Lula, com a pandemia da covid-19 por trás.
Na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, que recebeu uma versão da carta, a ordem é ficar em silêncio. Auxiliares do ministro avaliam, porém, como “injustas” as críticas de que não houve ação com medidas de combate à pandemia. Citam, por exemplo, o auxílio emergencial. Eles lembram que o pedido na carta dos economistas de vacinação em massa e cuidados é defendido por Guedes.
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