Para os
brasileiros, tecnologicamente ainda no cueiro, são perturbadoras, entretanto,
as virtudes e as competências das tecnologias dessa quinta geração
(5G) que está vindo por aí, propondo a troca de softs, conexões
digitais inovadoras e a instalação de novas redes digitais.
O modelo é
comandado pela mega fabricante chinesa Huawei que, por aqui, já
detém o controle da Nextel e da Sercomtel, está presente em 65% da rede Vivo,
60% da OI, 55% da Claro e 45% da TIM (Wiziack,2021). Os Estados Unidos
questionam o papel da empresa chinesa, e o Brasil, seguindo ainda a linha de
Trump, transita refratário pelo ambiente, mas já cogitando de uma concorrência
internacional para atualização e instalação de novas redes. Briga de “cachorro
grande”: a China é o maior parceiro comercial do Brasil.
Em uma partida de
Shogi, um jogo de xadrez japonês, entre um aluno e seu professor, o mestre
pergunta: Shikamaru, se esse jogo fosse como a nossa vida, nossa vila, e
acontecesse no contexto que vivemos, quem seria o
Rei? Shikamaru é considerado um dos ninjas mais inteligentes
do país do Fogo. Com o menor esforço, busca resolver problemas da
maneira lógica, e ser o mais objetivo possível, responde: Ora, é o Hokage (o
“presidente”).
O professor contesta: Numa primeira vista, parece mesmo o Hokage. Se por algum motivo, o Hokage é deposto do cargo ou se o rei morre, outro ‘’Hokage’’ entra no trono e o jogo recomeça. Então, é preciso proteger o rei pois, se for capturado o jogo acaba. Mas, quem é o rei, então?
Do lado de cá do
Japão, na nossa República, o chefe maior é o Presidente que, ao ter
a pretensão de ser a resposta de Asuma, ele se torna um plutocrata, um ditador,
ou reinará como o Reizinho (The Little King, de Otto
Soglow), um dos mais hilariantes personagens dos quadrinhos do século passado,
que gostava de se comunicar com gestos pantomímicos. Reinou por quarenta anos
amparado pelos jornais e revistas conservadores. Imaginação fértil, desafiava o
protocolo e a realidade ao seu redor. Tinha família, conselho de ministros,
exército, corte e súditos. A única figura que ali destoava era ele mesmo, o
rei, pouco afeito às convenções e às liturgias. Vivia criando situações
embaraçosas.
São fábulas que
ajudam hoje a compreender a realidade brasileira. O cidadão se aborrece diante
de tantos reizinhos e visionários contando diferentes versões. A História
mostra que o socialismo não deu certo por eleger como virtuosa a classe
operária, ignorando os problemas ainda maiores que ela gera. O capitalismo
se perdeu ao produzir uma enorme exclusão
social. O diálogo democrático entre os dois tende a não vingar
porque são confrontos recheados de vícios retóricos, estigmas, fetiches e
maldades com sentidos pré-determinados, cujos ônus caem sempre sobre a
sociedade, sem que alguém seja responsabilizado criminalmente.
Restam os
reformistas conciliadores, temerosos das soluções violentas, propondo
reformas políticas, ajustes nos sistemas de saúde, de
educação, de humanização da cadeia produtiva, da propriedade da terra, etc.
Tudo tende, entretanto, a ser apenas representado, como se fora
mesmo um mangá capitaneado pelo jogo dos três poderes. Eles parecem um
cemitério, onde toda a história se encerra e se enterra. Deve ser por isso que
a maioria veste-se de preto.
A história
brasileira teve tempo e algumas oportunidades para passar por rupturas
definitivas. Nada vingou, porque o sistema se ampara em uma estrutura social e
mental canonificada por falsos profetas e enganosas interpretações.
Foram tão bem configuradas ao longo da História que a tecnologia as disseca com
rapidez e as deglute com facilidade. Na Austrália, o Google já controla 95% das
buscas. O mundo atual, em processo distópico, está começando a ficar mesmo sob
o controle das grandes plataformas digitais, modelos e ferramentas
conectados dentro de um ambiente e que interagem entre si, buscando,
criando valores e encripitando-os. Nossos arquivos pessoais, de empresas e
governos vão sendo codificados, ininteligivelmente, por
essas plataformas inclinadas a retomar o caminho do
mundo em direção a paradigmas culturais novos.
A
tecnologia, sucedendo a si mesmo constantemente (1G, 2G, 3G, 4G,
5G), começa aos poucos a controlar o espetáculo social. Uma empresa estrangeira
controla no Serviço de Processamento (Serpro) do Ministério da Fazenda o
auxílio emergencial e as contas públicas. Agora chega aí, também de
mansinho, uma tentação tão indigna quanto as atitudes do reizinho, que é o
controle da inteligência nos centros de pesquisa e nas salas de aula digitais.
O impaciente
Shikamaru vê o mestre Assuma mal no leito de morte, e não resiste: “Quem é
afinal o rei? Fala, quem é?”. O mestre responde: “Ele não nasceu ainda”.
As virtudes desta geração estão se apagando à espera da próxima.
*Aylê-Salassié F. Quintão, Jornalista e professor e Alexandre Q.F Quintão, Fisioterapeuta, pós-graduado em gerenciamento estratégico de projetos
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