Eduardo Cucolo
/ Folha de S. Paulo
SÃO
PAULO - O
Brasil tem potencial para desenvolver uma indústria de ponta na área de saúde e
utilizar a pandemia para se tornar um player global nessa área, de forma a se
destacar em um “novo mundo pandêmico”, no qual a convivência com o novo
coronavírus seria permanente.
Essa
é a visão da economista Monica
de Bolle,
professora da Johns Hopkins University (EUA). Com especialização em Escola de
Medicina de Harvard, de Bolle afirma, em entrevista à Folha, que não voltaremos à
normalidade pré-pandemia e que a convivência com o vírus irá alterar a forma de
funcionamento da economia global.
No
segundo semestre de 2021, a gente vai relaxar medidas restritivas, medidas
sanitárias, em várias partes do mundo. Mas, supondo que todas essas vacinas
deem conta dessas variantes, as que existem e as que vão surgir, a gente só
consegue ter um contingente no mundo vacinado em quantidade suficiente para
conseguir respirar com algum alívio, com certo otimismo, lá para o final de
2022.
Eu passei os últimos dois anos fazendo uma série de especializações em medicina em Harvard e calhou da pandemia acontecer. Para mim, pela natureza desse vírus, ele vai permanecer entre nós. A gente vai ter de se adaptar a conviver com isso, passar por surtos, por várias vacinas que vão ter de ser atualizadas recorrentemente e continuar com algum grau de cautela nas nossas vidas. Você vai ter sempre um repositório de Sars-Covid-2 em algum lugar do mundo sofrendo mutações.
Para
um país poder se sair melhor que outro vai ter de investir muito na área de
saúde. Em tudo: testagem, equipamento de proteção pessoal, capacidade de
vigilância genômica, que requer vários laboratório com equipamentos de ponta e
uma rede que converse entre si e esteja rastreando no país inteiro.
Você
vê a Índia exportando vacina para muitos países e também exportando
medicamente, produtos químicos. A China, a mesma coisa. A Rússia está tendo o
mesmo tipo de posicionamento. Se você olhar para esses países [do Brics],
tirando o B [de Brasil], o resto dos Brics estão todos fazendo esse
reposicionamento. O Brasil teria uma posição muito privilegiada para fazer
isso. Já fomos grandes produtores de medicamentos e vacinas, mas abrimos mão
dessa vantagem.
A
agenda de longo prazo deveria ser essa. Dessas coisas começam a vir inovações,
tecnologias, inserção global, capacidade de estar mais envolvido nas cadeias de
produção globais, tudo pela via da saúde pública.
Quais
são as reformas que a gente precisa fazer para alcançar esses objetivos? Aí
você faz as reformas com esses objetivos em mente. Vamos fazer uma reforma
administrativa que atenda a esse objetivo, uma reforma tributária de modo a
alcançar esse objetivo.
O
envelhecimento populacional é outro aspecto importante do porquê investir em
saúde pública. E tem as sequelas da própria Covid. O número de pessoas que vão
precisar dessa área para continuar sendo produtivas... Algumas vão ter sequelas
para sempre, que as torna dependentes de centros de reabilitação.
Aqui nos EUA, todos os hospitais têm centro de reabilitação para quem teve Covid. A gente já tinha essa realidade de envelhecimento populacional somada a uma carga de doenças crônicas cada vez maior. Agora, além disso, tem o efeito que vem com as sequelas da Covid.
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