É
improvável que Bolsonaro deixe Queiroga fazer o que tem de ser feito
Quanto
medo Bolsonaro tem de Lula? Bastante, já que o capitão resolveu demitir o
general e se esforçou para convidar gente com qualificação técnica para exercer
o cargo. A primeira cotada, Ludhmila Hajjar,
recusou; o segundo, Marcelo Queiroga,
aceitou.
As coisas, porém, são mais complicadas do que parecem. Ninguém com diploma de medicina e familiaridade mínima com o método científico pode aceitar o posto se não arrancar de Bolsonaro a promessa de que poderá mudar a política sanitária até aqui adotada, o que inclui licença para impor medidas de distanciamento social, para aposentar os delírios cloroquínicos e para investir pesadamente na vacinação. E, para o presidente fazer uma concessão dessas, ele precisa estar aterrorizado com Lula e sob muita pressão do centrão.
O
problema é que, mesmo que Bolsonaro aceda agora a esse programa elementar, é
improvável que deixe Queiroga fazer o que tem de ser feito. A impulsividade com
tons paranoides é um traço inapagável da personalidade do presidente. Em algum
momento, ele acabará recaindo em seus tresvarios sanitários e desautorizará o
ministro.
Quem
tem um bom olhar clínico percebe isso e nem aceita o cargo, como parece ter
sido o caso de Hajjar. Já Queiroga provavelmente superestima suas capacidades
como negociador. Deve acreditar que conseguirá tourear Bolsonaro e encontrar
espaço para atuar. Veremos.
De todo modo, é positivo que Lula tenha entrado na equação. Ao tentar viabilizar-se como candidato que busca ganhar espaço entre eleitores do centro político, Lula não dá a Bolsonaro alternativa que não a de imitá-lo. Recoloca assim em jogo o teorema do eleitor mediano, segundo o qual os principais postulantes em um pleito majoritário buscam a chancela da maioria dos eleitores mesmo que sacrificando o apoio dos mais radicais. Até esse estranho começo de século 21, essa era a regra nas democracias.
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