O
Banco Central começa hoje a reunião mais difícil feita no atual governo. A
inflação de fevereiro foi mais alta do que o previsto e pode chegar perto de 8%
em junho, em 12 meses. A expectativa é que caia depois, mas ontem a sondagem do
BC mostrou que, de uma semana para outra, as projeções para o ano saíram de
3,98% para 4,6%. Os juros estão em 2%. A maioria dos economistas de bancos e
consultorias acha que o Copom subirá a Selic em meio ponto percentual. O
problema é que a economia ainda está em ambiente recessivo e o desemprego
aumentou. Desapareceram em um ano 8,4 milhões de postos de trabalho. Se os
juros não subirem, confirma-se a expectativa de alta da inflação. Se eles subirem,
pode-se esfriar ainda mais a economia.
A inflação atual é bem complicada. Sobem alimentos, produtos industriais e há falta de algumas peças e insumos na indústria. Tudo ao mesmo tempo e no meio de uma recessão. Os alimentos e bebidas subiram 15% nos últimos 12 meses. Alguns itens deram saltos enormes, como as carnes, com alta de 29%, e frutas, 27%. Os combustíveis subiram 9,37% nos dois primeiros meses deste ano. A produção industrial está sendo atingida por gargalos e choques de preços. Aço subiu 30%. O gás natural, 40%. O setor de plásticos só tem conseguido entregar 50% dos pedidos. Algumas indústrias estão parando por falta de peças. Há dificuldades na compra de resinas e na produção de papelão. Isso afeta as embalagens, o que faz com que vários setores tenham dificuldades de produção.
O
dólar subiu 8,14% só este ano. O real está entre as moedas que mais se
desvalorizaram no mundo, ao lado do peso argentino. As commodities que o Brasil
exporta também subiram. O índice CRB, que faz uma média das cotações
internacionais das matérias-primas, mostra valorização de 14% este ano. Como a
soja e o minério de ferro tiveram alta nas cotações, o Brasil está recebendo
mais dólares. Isso, em qualquer tempo, geraria queda da moeda americana em
relação ao real. Mas a incerteza sobre o país fez com que houvesse esse
fenômeno raro, em que as matérias-primas que exportamos e o dólar sobem ao
mesmo tempo.
É
o custo dos erros do governo no combate à pandemia e do intervencionismo
econômico do presidente. Além disso, foi necessário ampliar muito os gastos
públicos para mitigar os efeitos da crise sanitária e econômica. A dívida
pública é de 89% do PIB, num país que está há seis anos com déficits primários
e assim permanecerá pelos próximos anos. O risco-país, medido pelo Credit
Default Swap (CDS), saltou de 142 pontos no início do ano para 199 pontos,
ontem. Essa é uma medida de percepção de risco sobre uma economia.
Na
equipe econômica admite-se que essa alta da inflação é o grande problema agora,
porque se as expectativas forem de descontrole das contas públicas as
tendências inflacionárias vão permanecer. Por isso, a aprovação da PEC
Emergencial era considerada fundamental nesse esforço para “ancorar as
expectativas”. Mas o problema é que o projeto foi tão desidratado que poucos
economistas de fora do governo acreditam que ela fará diferença. Oficialmente o
Ministério da Economia divulgou nota chamando a PEC de “a maior reforma fiscal
dos últimos 22 anos”. Isso foi motivo de piada entre os especialistas em contas
públicas.
Diante
desse quadro, o Copom vai se reunir hoje e amanhã. Inflação alta, ambiente
recessivo, choque de preços, desvalorização cambial e falhas no abastecimento
afetando a cadeia produtiva. Além do cenário de piora das contas públicas. No
mercado, a maior parte dos economistas aposta que o Banco Central anunciará uma
elevação de meio ponto percentual. Um grupo menor acha que o aumento será de
0,25%.
Começa a fechar a janela de oportunidade que se abriu com os juros mais baixos da nossa história. Nesse meio tempo o país poderia ter aprovado mudanças que apontassem para uma redução do déficit público no futuro. Mas nada anda porque o governo tem uma agenda caótica e uma calamitosa forma de administrar o país. As trapalhadas, nas últimas horas, para a escolha do quarto ministro da Saúde na pandemia mostraram isso. Que sentido faz o filho do presidente sabatinar uma médica e perguntar o que ela acha da liberação das armas. Em que governo do mundo isso é pré-requisito para alguém assumir o comando do Ministério da Saúde, em um país onde já morreram quase 280 mil pessoas?
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