Depois
de um ano de pandemia, a Ciência já ofereceu várias vacinas para o dito novo
coronavírus, mas o Brasil ainda não encontrou um diagnóstico efetivo para o
Bozo. Os especialistas se dividem entre trauma intrauterino, desconexão com a
realidade (a tal ausência) ou síndrome do papel que embrulha prego.
Ou,
apenas, mané.
Chocar-se
contra um prédio, depois de um malsucedido salto de paraquedas, ser alcunhado
de Cavalão e não ascender a oficial superior do Exército, além de compartilhar
os segredos do Silas Malafaia, são motivos elencados no prontuário para a
disfunção de cognição, falta de vocabulário e alma penada.
Alguém que já viu de tudo nessa vida, como Machado de Assis, prescreveu em “O alienista”: não se contraria diagnóstico. É como se dissesse, quem não nasceu para general, morre tenente. Difícil encontrar empatia nas mentes ocupadas por sintomas como paranoia, por sentimentos como inveja e trazer na memória apenas a combinação de cores usadas por Pazuello.
Se
olharmos o Brasil como um enredo, talvez haja um bálsamo ou a constatação de
que, de fato, basta sentar e aguardar a próxima revelação. Porque o país é
regido por um roteirista bastante previsível, de soluções preguiçosas, ou é bem
mal pago. Incapaz de surpreender com desfechos inusitados. Repete sempre os
truques.
Se
não, vejamos.
Até
dias atrás, Lula da Silva era o bandido e Sergio Moro, o herói. Foi quando
surgiu Kassio Nunes, com seu jeito de mordomo da Atlântida e dicção de dízimo
da Baixada, e mudou o rumo da história. Bozo, com sua boca grande, já tinha
cantado a cartada do Kassio, o que levou a Cármen Lúcia a mudar de papel. Ou de
lado na história.
É
algo que ocorreu anteriormente. Também com calça apertada (esse PSDB…), Aécio
Neves encarnou por duas temporadas o perfil de mocinho, com Dilma no polo
oposto. Dizia até que houvera roubo na eleição da presidenta (sic). Como ela
não conseguia explicar a relação entre Guido Mantega e o vento engarrafado,
pairavam dúvidas no ar.
Logo
dissipadas quando o Neves, numa gravação feita na base do barbante, não
conseguiu explicar a marca de batom na cueca que era seu escuso tatibitate
noturno, num quarto de hotel, com o dono do açougue. Ele tentou colocar preço
no diálogo, mas, ao final, perdeu a condição de mocinho da história. Hoje é um
personagem atrás de um desfecho. De seu lado, Dilma não avançou nenhuma casa no
enredo. Continuou como uma ausência. Ou um dublê de corpo.
Olhar
o passado talvez seja um alívio para as dores presentes. Conforme o ângulo, a
história deixa de ser trágica e se torna dramática. A geração de Carlos
Drummond de Andrade passou por duas ditaduras. Encarou facínoras como Filinto
Müller, Sérgio Fleury e Ustra. Teve de enfrentar inomináveis como o ministro da
Justiça Gama e Silva, alcunhado Gaminha, um dos inspiradores do AI-5. Mesmo
assim, fomos contemplados com “A máquina do mundo” e “Grande Sertão: Veredas”.
Até o momento, o bozochavismo só nos brindou com os apontamentos literários de
Weintraub (kafta em lugar de Kafka) e a dislexia sintática do Carluxo.
Já
naquele tempo havia a confusão de papéis, quando o herói virava bandido, ou
vice-versa. É isso que causa medo. Getúlio Vargas comandou uma ditadura
sanguinária por quase uma década. Com as prisões lotadas de adversários
políticos (até despachando Olga Benário para os campos de concentração), se viu
alinhado aos aliados no combate ao Eixo nazifascista. Ou seja, no Brasil era
bandido e, no exterior, posava de mocinho. Ao final da guerra, seu duplo papel
foi desmascarado. Passados alguns anos, voltaria eleito à Presidência como bom
moço. A esquerda, antes perseguida por ele, alguns pagando com a própria vida,
também mudaria de lado. Por alguns caraminguás, passou a defendê-lo; enxergou
nele o pai dos pobres e um defensor da soberania nacional.
E
agora Lula (nunca vou esquecer), que nos causou o Bozo, troca de papel e já
posa como… o herói da próxima temporada.
Mas não vamos nos dispersar, porque quem protege Queiroz, de Pazuello não passará.
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