Dados
mostram total descontrole da epidemia, que precisa de um governo de emergência
na saúde
As UTIs
dos hospitais da prefeitura de São Paulo vão lotar em cerca de duas
semanas caso o número de pessoas internadas por Covid-19 continue a crescer
como nos últimos sete dias. Isso se a cidade dispuser de novo do número máximo
de leitos que já teve, 1.290, entre outubro de novembro do ano passado. A
cidade ainda acha que pode chegar a 1.400 camas para atender a esses doentes
muito graves. Então, no ritmo atual, a lotação ocorreria em 18 dias, três
semanas, no máximo.
Quanto
tempo levaria para conter esta onda, reduzir o morticínio
nacional pelo menos ao nível de horror de um mês atrás (mil mortos por
dia)? Estamos com mais de 1.500 por dia, na média móvel de sete dias, mais de 2
mil nesta semana. Não é comparação tecnicamente correta, mas países europeus
levaram de um a dois meses para reduzir o morticínio do pico à metade, alguns
com o auxílio de vacinação em massa, como o Reino Unido.
Em
Israel, o número de mortos por milhão era de 7,4 por dia (a mesma do Brasil de
agora) quando já vacinara mais de 30% da população, em 25 de janeiro. Agora, a
taxa de mortes israelense está perto de 2 por dia, por milhão, com mais de 57%
vacinados.
Com
sorte, o Brasil terá 30% de vacinados lá por fins de maio. De resto, as medidas
de restrição de contatos, de distanciamento, serão menos rigorosas que as
europeias.
Nesta quarta-feira (10), Eduardo Pazuello, o capacho de Jair Bolsonaro que ocupa o almoxarifado da Saúde, disse que o número de doses de vacina a serem entregues em março pode ser menor do que se previa no final da semana passada (30 milhões), quando já se rebaixara a expectativa de vacinação.
“Temos
garantidas para março entre 22 e 25 milhões de doses, podendo chegar até 38
milhões de doses. São números realmente impactantes e que vão fazer a diferença
na nossa campanha de vacinação”, disse Pesadello, um dos generais do Exército
da morte de Bolsonaro.
Como
se escrevera nestas colunas, não é certo que Butantan e Fiocruz consigam
entregar as doses que o governo federal colocou no calendário de março, embora
ainda tentem fazê-lo. Vacinas importadas prontas podem não chegar, como tem
sido o caso quase rotineiro desde o início do ano.
Menos
vacinas, mais mortes, mais lotação de UTIs, mais restrições à circulação, menos
atividade econômica e mais risco geral de afundamento do país. Onde está o
governo de salvação nacional, alguma espécie de regência provisória que
substitua no que for possível o comitê inepto da morte do capitão Bolsonaro,
seus generais e seus coronéis? No que diz respeito ao governo da federação, o
país está largado à própria sorte.
Governadores
se movimentam, mas não há reação forte, ultimatos, decisões do Congresso,
uma frente de emergência contra a morte. Em países derrotados na guerra ou
indignados com o horror da mortandade, não raro há revoluções ou revoltas, dos
Estados Unidos do conflito vietnamita às insurreições europeias do fim da
Primeira Guerra, para citar uns poucos exemplos cediços. O Brasil derrotado pelo
exército de Bolsonaro vai para o abatedouro quase sem reação política.
O
fato de haver alguma oposição faz alguma diferença. João Doria fez com que o
país tivesse alguma vacina e levou Bolsonaro a se mover. Um mero
discurso de Lula da Silva fez o capitão da morte usar máscara em
público e falar de vacinas. Mas é terrivelmente pouco. Não temos mais remédio
para evitar os 300 mil mortos da Páscoa. Corremos o risco de contar 400 mil
mortos no dia das Mães.
O
país precisa começar uma revolta contra Bolsonaro.
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