Talvez
a morte do tão querido ator e humorista Paulo Gustavo nos abra os olhos e nos
sensibilize para o sofrimento das milhares de famílias que anonimamente
perderam seus parentes. A não ser que haja uma adesão coletiva à cínica
afirmação de Stalin, ditador da antiga URSS, que afirmou: “Uma única morte é
uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística”.
De qualquer forma é preciso repensar o futuro do país. Qual é o Brasil que queremos quando a tempestade passar? O debate público é centrado em torno de personalidades, seus atributos e defeitos. As candidaturas tem conteúdo mais personalista do que programático.
Honra
seja feita, como exceção, ao fato de Ciro Gomes ter lançado o livro “PROJETO
NACIONAL: O DEVER DA ESPERANÇA” (Editora LeYa) e de o PSDB ter lançado, com o
apoio do Instituto Teotônio Vilela, a coletânea de artigos “O BRASIL PÓS
PANDEMIA: uma proposta para reconstrução do futuro”
(https://www.psdb.org.br/wp-content/uploads/2020/12/BRASIL-PÓS´PANDEMIA-FINAL.pdf).
Já
disse aqui que não é o momento de discutir a sucessão presidencial de 2022. A
população está interessada em vacina, emprego e segurança alimentar. Dado isto,
seria um bom momento para partidos amadurecerem um projeto para o futuro do
país.
Essa
reflexão, em minha opinião, deveria abranger quatro eixos centrais. O primeiro
é sobre a questão democrática. A liberdade e a democracia andaram ameaçadas.
Quais as travas necessárias para evitar retrocessos? Qual é a reforma política
profunda que temos que produzir? Quais as transformações constitucionais e
legais para que a convivência entre os Poderes republicanos supere o permanente
estado de conflito que vivemos? Qual é o papel do Poder Judiciário e das Forças
Armadas? E o papel do Brasil no cenário mundial? Perguntas que precisam ser
respondidas por qualquer candidato à presidência.
Em
segundo lugar, a discussão sobre o novo modelo de desenvolvimento econômico.
Como crescer, incluindo? Qual Estado precisamos? Como conseguir uma integração
competitiva ao mundo globalizado? Quais são as diretrizes corretas para as
políticas fiscal, monetária e cambial? Como privilegiar a inovação e o
empreendedorismo? Como enfrentar o desemprego tecnológico? Como repensar o
mundo do trabalho? Como superar a armadilha do baixo crescimento?
Em
terceiro lugar, o desafio de combate às crônicas e inaceitáveis desigualdades
pessoais e regionais de renda e qualidade de vida. Qual é a educação e a saúde
com que sonhamos? Quais as formas de redistribuir renda? Qual seguridade social
e rede de proteção precisamos? O dever número 1 de qualquer candidatura é
explicitar suas estratégias para tirar milhões de brasileiros da miséria e da
pobreza.
Por
último, a visão da sustentabilidade e do compromisso ambiental aonde o Brasil
tem papel central no debate internacional.
Política
é meio, não fim em si mesma. Um candidato à presidência não pode ser um rebelde
sem causa. Antes de debater nomes, é urgente discutir as ideias.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PDSB-MG)
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