quarta-feira, 21 de julho de 2021

Bruno Boghossian - Lula, Bolsonaro e a terceira via

Folha de S. Paulo

Pesquisas mostram que nenhum dos dois precisa perder tempo de olho no retrovisor

Jair Bolsonaro afirmou que "não existe terceira via" na política brasileira e que "o povo não engole" a ideia de um nome alternativo para a eleição do ano que vem. Lula disse que esse rótulo é "uma invenção dos partidos que não têm candidato" e que todas as siglas deveriam entrar na disputa para testar sua força.

As pesquisas confirmam que, até aqui, os dois principais nomes da corrida presidencial não precisam gastar tempo de olho no retrovisor. Os discursos sobre a terceira via mostram que as atenções de Lula e Bolsonaro não estão voltadas para possíveis adversários, mas para uma fatia de eleitores que ainda não aderiu a nenhuma das duas candidaturas.

As declarações de Lula e Bolsonaro mostram como eles enxergam a disputa pelos votos dessa faixa do eleitorado. O presidente se saiu com a releitura de uma passagem bíblica: "seja quente ou seja frio, não seja morno". Ele sugeriu, assim, que pretende reeditar uma campanha radical para se contrapor ao PT e capturar votos por oposição.

Já o petista, embora rivalize com o presidente, parece interessado em desmontar essa arena. Um dos objetivos de Lula é evitar a difusão da ideia de que ele seria um Bolsonaro com sinal trocado, como tentam fazer crer os patrocinadores da terceira via. "Falam em polarização... O que tem de um lado é democracia e do outro é fascismo", declarou.

Se nenhum candidato competitivo emergir do segundo pelotão da disputa, a rejeição deve guiar a competição. No primeiro turno, Lula já recebe o apoio de 68% dos eleitores que se recusam a votar em Bolsonaro, segundo o Datafolha. Já o presidente tem 59% dos votos dos antilulistas. O capitão larga em desvantagem porque sua rejeição é maior.

Por enquanto, o fluxo também favorece o petista no segundo turno. Num embate direto, Lula recebe um impulso de 10 pontos percentuais de eleitores antibolsonaristas que não haviam votado nele no primeiro turno. Já os antilulistas dão um bônus menor a Bolsonaro: o capitão ganha só mais 5 pontos em novos votos.

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