Doria e Eduardo Leite, que pretendem concorrer às prévias, porém, evitaram contestar fala do presidente do partido
Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO — O presidente do PSDB,
Bruno Araújo, foi cobrado por tucanos em razão da declaração dada ao GLOBO de
que o partido pode abrir mão da candidatura à Presidência da República em nome
da unidade das forças de centro. Mas apesar das reações, os candidatos que
pretendem disputar as prévias da legenda, marcadas para novembro, evitaram
contestar o dirigente e mostraram alinhamento nesta terça-feira ao defenderem
o diálogo com as outras siglas.
— A colocação foi sensata. O Bruno apoia as
prévias que vão definir quem será o candidato do PSDB. O candidato vitorioso
nas prévias sairá fortalecido para compor a melhor via. E com isso terá a
oportunidade de dialogar com outros partidos que possam conjugar e compor esse
centro democrático, que não é nem Lula nem Bolsonaro, nem extrema esquerda nem
extrema direita — afirmou o governador de São Paulo, João Doria, em entrevista
à Rádio Clube de Pernambuco, estado de Bruno Araújo.
O tom conciliador adotado por Doria, porém, não foi visto entre os seus aliados. Reservadamente, tucanos que apoiam o governador paulista nas prévias chegaram a dizer que Araújo atua alinhado com o deputado federal Aécio Neves (MG) para colocar o PSDB próximo ao centrão e na órbita do presidente Jair Bolsonaro. Também descartam qualquer possibilidade de o partido não estar na cabeça de chapa na disputa presidencial do próximo ano.
— A decisão de ter candidatura própria já
está superada. A disputa agora é sobre quem será o candidato. Não existe
possibilidade de o partido não ter candidatura — disse o prefeito de São
Bernardo, Orlando Morando, aliado de Doria.
Militantes do partido também contestaram a
fala do presidente com o argumento de que o PSDB, pelo seu histórico, não pode
abrir mão de encabeçar a chapa. Por outro lado, a direção entendeu que a frase
de Araújo foi uma sinalização importante para outras legendas de centro porque
afasta o argumento de que o partido sempre busca a hegemonia dentro do campo.
Outro postulante ao posto de presidenciável
da legenda, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, enfatizou a
necessidade de conversas com outras siglas, mas destacou que a candidatura
tucana não pode ser “construída para atender vaidades”, numa referência que
pode ser lida como um recado a Doria. “O PSDB em 2022 fará o que é
melhor para o Brasil, e não o que é melhor para o partido. Candidatura à
Presidência deve ser projeto para o país, não para atender vaidades. Mas não
tenho dúvida de que o PSDB oferecerá candidatura forte eleitoralmente,
construída a partir das prévias”, escreveu Leite, no Twitter.
O gaúcho ainda enfatizou que as prévias vão
apontar uma alternativa à polarização. “O PSDB não faz prévias para não
ter candidato; faz para ter o melhor candidato. Não faz prévias para ser o dono
da verdade, mas para construir coletivamente, desde o partido, uma alternativa
a Lula e Bolsonaro. E assim será depois das prévias também com os demais
partidos.”
Aécio, que já havia levantado a
possibilidade de o PSDB não ter candidato, reafirmou a sua defesa de um único
nome de centro na disputa.
— Para o Brasil, o melhor é que esse
candidato seja o mais viável eleitoralmente, sendo ou não do PSDB. Por isso,
essas prévias de novembro devem indicar um pré-candidato que deverá buscar
convergências com outras forças políticas e da sociedade, para construir uma
única candidatura com reais chances de vitória.
Sem citar nominalmente o governador de São
Paulo, o deputado mineiro criticou a postura de Doria, seu adversário interno
no partido.
— Exigir, como defendem alguns, que
essa candidatura seja obrigatoriamente do PSDB, mesmo que ela não apresente
qualquer viabilidade, única e exclusivamente para atender à vaidade e aos
interesses pessoais de um pretenso candidato, nos levaria, inexoravelmente, ao
isolamento, atendendo, aí sim, ao interesse das candidaturas de Lula e
Bolsonaro e não aos interesses do país. Portanto, é hora de muita
responsabilidade e desprendimento, algo que, pelo visto, alguns vêm
demonstrando não ter.
Além de Doria e Eduardo Leite, também pretendem disputar a prévia do PSDB o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
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