O Estado de S. Paulo
Os militares rejeitam Lula, mas ele
investiu pesado na modernização das três Forças
Uma das dúvidas que mais incomodam o
ex-presidente e pré-candidato de 2022 Luiz Inácio Lula da Silva é
por que, afinal, os militares têm tanto ódio dele e do PT. Uma dúvida justa,
justíssima, porque os dois mandatos de Lula foram de paz na área militar, com o
Ministério da Defesa forte, boas relações entre presidente e comandantes
militares e capacitação e reaparelhamento das Forças Armadas. É inegável, é
fato.
Replique-se a dúvida de Lula a militares do
Exército, da Marinha e da Aeronáutica e a resposta é unânime: “O PT roubou!
Lula montou dentro do Planalto o maior esquema de corrupção do País”. Alguns acrescentam
a ojeriza à esquerda, a polêmica da Comissão da Verdade (sobre tortura e mortes
na ditadura militar) e o desastre Dilma Rousseff na
economia. Nenhum deles, porém, reclama dos investimentos nas três Forças.
Ministro da Defesa de 2007 a 2011, o ex-presidente do STF e ex-deputado Constituinte Nelson Jobim assumiu a pasta no caos aéreo após os dois então maiores acidentes da aviação brasileira. Sua missão: botar a casa em ordem. Foi o que ele fez. Na sua gestão, foram criados a Estratégia Nacional de Defesa, o Conselho Sul-Americano de Defesa e o Comando Conjunto das Forças Armadas. E as três Forças tiveram um recorde de investimentos.
Na FAB, foi definido no governo Lula e
aprovado no de Dilma o programa FX-2, que renovou a frota com caças suecos
Gripen NG, trazendo tecnologia, treinamento e poder bélico. Lula preferia o
francês Rafale, Dilma chegou a apoiar o Boeing americano, mas prevaleceu a
opção técnica da FAB. E teve também o KC 130, um cargueiro construído no Brasil
pela Embraer, estratégico para a locomoção de tropas.
Na Marinha, o Prosub, ambicioso programa de
submarinos, em parceria com a França, que inclui um submarino de propulsão
nuclear e a construção de um estaleiro e uma base em Itaguaí (RJ). No Exército,
o blindado Guarani, de tecnologia nacional, e dois sistemas, o de comando e
controle e o de guerra cibernética, um orgulho e um sucesso na Olimpíada e na
Copa do Mundo.
Com Lula-Jobim, as Forças Armadas também
instalaram o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), do
Exército, e o Sistema de Monitoramento da Amazônia Azul (Sisgaaz), da Marinha.
São sofisticados programas de radares para controle das fronteiras terrestres e
do imenso mar territorial brasileiro.
“A compreensão do Lula sobre a necessidade
e a importância estratégica das Forças Armadas foi extraordinária”, diz Jobim,
lembrando também que o então presidente convivia bem com os três comandantes da
época e respeitava as decisões de cada área, a começar da própria escolha dos
comandantes: os Altos Comandos definiram os nomes e Lula encampou sem
ressalvas, sem qualquer avaliação ideológica ou coisa do gênero.
O presidente Jair Bolsonaro entupiu o
Planalto e a administração de militares, melhorou os soldos, aumentou um bocado
o salário dos mais íntimos e foi camarada na reforma da Previdência, além de ir
a todo e qualquer evento militar. Mas foi Lula quem investiu firmemente na
modernização das Forças Armadas.
Na época de Lula, aliás, não se ouvia falar de coronéis, tenentes-coronéis e generais metidos na Saúde e em confusões. Quando houve sindicâncias sobre desvios de conduta, foram internas, discretas e rigorosas. Ninguém precisou se referir, em nenhum momento, ao “lado podre” militar. Essa expressão só emerge com o capitão insubordinado na Presidência, nomeando pessoas erradas, em lugares errados, e usando a marca Forças Armadas ao falar de golpes. Se é para ser contra, seria melhor ser contra ambos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário