terça-feira, 27 de julho de 2021

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*

“A entronização do Centrão pelas mãos dos que se apresentavam como seus inimigos figadais se, em parte, significa capitulação, de outro lado pode importar na invenção de caminho promissor para as forças retardatárias do capitalismo brasileiro que se livrariam dos riscos de extinção, convertendo-se pelas mãos do Estado, em novos parceiros de sua expansão. Para as forças democráticas, agora em que o impeachment se reduziu a uma hipótese de laboratório, toda a atenção deve estar voltada em impedir a legitimação pelo voto dessa coalizão reacionária.

O processo de democratização que levou a conquista da Carta de 1988 foi fruto não só das lutas populares e democráticas, mas também de compromissos – não houve, como se sabe, uma ruptura na passagem para o retorno à democracia, que se realizou pela via de uma solução negociada, evidente em questões cruciais como a agrária e a militar, esta última intocada e à margem das inovações introduzidas pelo poder constituinte.

Nas eleições que se avizinham, nessas novas circunstâncias de alianças do bolsonarismo com o Centrão barrar seu caminho de reprodução traz a oportunidade para o ator democrático varrer o entulho autoritário ao mesmo tempo em que arremessa para fora do caminho da nossa sociedade os restos do que ainda sobrevive das piores tradições do patrimonialismo em nossa formação. O rumo está dado, cabe-nos agora erguer o ator coletivo a fim de cumprir essa missão.”

*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio. “Bolsonaro, o Centrão e nós”, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 26.7.202.

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