O Globo
O homem do botão vermelho não está
interessado em apertá-lo. Na semana em que Jair Bolsonaro fez um ensaio aberto
do golpe, Arthur Lira voltou a simular normalidade. O presidente da Câmara
passou o 7 de Setembro entocado em Alagoas. De volta a Brasília, deixou claro
que os 130 pedidos de impeachment continuarão na gaveta.
Na quarta-feira, o deputado fez um pronunciamento anódino sobre a
crise. Reclamou de “bravatas em redes sociais”, mas fingiu não ter ouvido as
ameaças da véspera. Em outra passagem, ele elogiou “todos os brasileiros que
foram às ruas de modo pacífico”. Sobre as tentativas de invasão do Supremo
Tribunal Federal, preferiu silenciar.
Bolsonaro ainda não havia ressuscitado
Michel Temer quando Lira prometeu agir como uma “ponte de pacificação entre
Judiciário e Executivo”. “A Câmara dos Deputados está aberta a conversas e
negociações”, disse. De negociações ele entende. A questão é compreender seus
objetivos.
O chefe do Centrão é um colaboracionista
convicto. Fará vista grossa aos crimes de Bolsonaro enquanto puder extrair
ganhos para seu grupo político. No arranjo atual, o deputado exerce um poder
inédito sobre o Orçamento. Instalou uma aliada no quarto andar do Planalto e
comanda a distribuição de cargos e emendas.
Lira considera que tem mais a ganhar do que a perder com a permanência do capitão. Se a popularidade do governo continuar baixa, melhor ainda. O cenário de um Bolsonaro isolado e dependente do Centrão é o ideal para o projeto de pilhagem. Pelo menos até o início da campanha de 2022.
Na quinta, o presidente da Câmara renovou
sua cumplicidade com o golpismo. “Ninguém é obrigado a cumprir decisão
inconstitucional”, afirmou. No palanque da Avenida Paulista, o capitão havia
cometido mais um crime de responsabilidade ao dizer que descumpriria decisões
do Supremo. A declaração de Lira soou como uma anistia instantânea. Sua “ponte
de pacificação” é uma pinguela para a impunidade.
Heleno, o historiador
Para os anais da avacalhação da TV Brasil:
no domingo passado, a emissora pública dedicou um programa inteiro às opiniões
do general Augusto Heleno sobre o Dia da Independência.
Entre platitudes e patriotadas, o ministro
informou que “os símbolos nacionais são um grande sustentáculo do nosso
espírito de brasilidade” e que “nós temos que agradecer ao português a
colonização do nosso país”.
O entrevistador exaltou a “carreira
brilhante” do general. Depois estendeu os elogios ao capitão. “O senhor
considera que essa é uma marca do presidente Jair Bolsonaro, resgatar os símbolos
nacionais?”, perguntou, sem corar.
No fim do programa, Heleno contou que
desfila no 7 de Setembro desde os 13 anos, sempre “com muita emoção”. “Nosso
país é privilegiado”, concluiu.
Nem sempre, general.
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