Folha de S. Paulo
No Congresso, impressão é de que sociedade
não faz pressão pela deposição do presidente
O impeachment é
coisa de artigo de jornal, de artista, de uns poucos da elite da sociedade, de
uma minoria de parlamentares, de uns empresários gatos pingados, diz um
deputado próximo de quem comanda a Câmara e o centrão, mas ora sem posição de
poder.
“Vocês” criticam o Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, mas “deixaram passar o Maia, que é amigo da elite do Rio e de São Paulo. Pergunta para o Lira que empresário pediu a ele que liberasse o impeachment. Ninguém”, diz o deputado, mencionando o fato de que o Rodrigo Maia também não despachou dezenas de pedidos de abertura de processo contra Jair Bolsonaro quando presidente da Câmara.
O deputado acha que a maioria dos
empresários está com Bolsonaro ou quer “deixar como está”, “com certeza são,
esses mais chegados na política” e quase todo o restante estaria “em cima do
muro”. “Veja
essa carta dos empresários, da Fiesp. Os deputados da base [de Bolsonaro]
batem mais nele do que esses empresários”.
Diz ainda que “ninguém” no Supremo quer
mais confusão, “eles sobem o tom, prendem um quando extrapolam, mas vai ver se
querem impeachment, fora o [Luiz]
Barroso”. Diz também que há grande desconfiança entre militares e
parlamentares, “general não gosta de deputado”.
No
Datafolha mais recente, de julho, 54% dos eleitores apoiavam o impeachment.
É pouco, diz o deputado, para quem os adeptos da deposição desistiriam da ideia
se soubessem “a confusão que esse povo do Bolsonaro vai arrumar na rua”.
Os deputados não ouvem “as ruas”? “Têm medo
da rua, ouvem e conhecem mais o povo que vocês, que são elitistas, não sabem o
que acontece na Paraíba, em Goiás, no Amazonas. Mas falta rua também”. Diz que
o clima de quarta-feira em Brasília era de medo “nos três Poderes”, “todo
mundo” ainda achando que haveria invasão de prédios públicos.
O deputado “tem uma tese” sobre a posição
de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). Os petistas por vezes são criticados por não
apoiarem decididamente o impeachment, por cálculo eleitoral. O deputado diz que
isso “pode pesar, mas a eleição está longe”. Diz que Lula é muito esperto e não
quer que a esquerda comande manifestações e acabe ficando sozinha, “com
confusão na rua, bandeira vermelha, para tudo dar em nada. Pode virar contra
ele um jogo que está favorável, ficar com fama de baderneiro, com a broxa na mão”.
Parlamentares não teriam começado a
discutir a hipótese de impeachment? Político “sempre discute tudo, mas a
realidade ainda é outra”. Lira tem seus interesses “legítimos” de criar um
esquema de influência e poder enquanto está no comando da Câmara e com “voz no
governo”, algo que ainda precisa “consolidar” (“empresário paulista não
conhecia o Lira”).
Mas esse esquema pode ser negociado em
outra “situação política, que ainda ninguém sabe o que vai ser, não tem
alternativa nenhuma, fora o Lula. Empresário também pensa nisso”. Muito
importante, diz, “Lira e ninguém manda e outros [deputados] obedecem”. A
maioria não quer impeachment, “evangélico não quer, ruralista não quer, o
impeachment hoje tem menos de 200 votos”.
Se Bolsonaro voltar à carga, algo muda? Pode
ser. Mas tem muito espaço para acordo. “O Lira vai tourear o Bolsonaro, foi lá
na quarta-feira dar um chega para lá, todas as lideranças vão fazer isso”.
Empresário, diz ele, quer só um pouco de calma, “para levar tudo até a
eleição”.
“Vocês acham que somos [parlamentares] uns
venais, uns irresponsáveis, mas a sociedade ainda não partiu para o impeachment
e a gente não quer uma conflagração nacional”, diz o deputado.
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