Hora de pensar a renúncia de todos os
candidatos em benefício daquele com maior chance de barrar a Pessoa Jurídica do
Autoritarismo
Enquanto seis democratas disputam qual
deles irá para o segundo turno, Bolsonaro já está no terceiro. Percebendo a
possibilidade de derrota, se prepara para negar o resultado da eleição com um
golpe cujo esquema está pronto, salvo um detalhe.
Já levantou a suspeita de fraude nas urnas eletrônicas; já explicitou a suspeição do Presidente do TSE, que será Alexandre de Moraes; já liberou a compra de armas que seus apoiadores utilizarão; já mobilizou suas milícias, polícias, motoqueiros, caminhoneiros, além de parcelas do Exército, Marinha e Aeronáutica. Só descuidou do elemento surpresa, importante para o êxito de qualquer golpe, mas conta que a falta de surpresa não vai atrapalhar, porque os democratas continuarão divididos, disputando entre eles, deixando a defesa da democracia nas mãos do STF, sem urnas, nem armas. Mais uma vez, o autoritarismo se beneficia do corporativismo dos democratas que continuam achando que a disputa é entre cada um deles, ou entre esquerda e direita e não entre democracia e autoritarismo. Se tivessem bom senso, sentimento democrático e espírito público, os seis pré-candidatos a presidente deveriam entender o caráter da disputa.
A Pessoa Física Bolsonaro foi eleita pelo
discurso antipolítica, pela facada, pela rejeição à velha esquerda, o
enfrentamento do fantasma do comunismo já morto e pela bandeira da
anticorrupção. Agora, a vitória será da Pessoa Jurídica do Bolsonaro:
negacionismo, recusa à ciência, controle do STF e do Congresso, aceitação de
corrupção da turma no poder, abandono da escola pública, das universidades, do
desenvolvimento científico e tecnológico, sequestro dos símbolos nacionais,
abandono dos direitos das minorias, queima das florestas, genocídio. A eleição
será um plebiscito entre a Pessoa Jurídica do atraso desmiolado e a Pessoa
Jurídica Democrática em busca do salto para o futuro.
Para construir esta Pessoa Jurídica
Democrática, o primeiro passo é a unidade na defesa da democracia: renúncia de
todos os candidatos em benefício daquele que apresente maior chance de barrar a
Pessoa Jurídica do Autoritarismo. A democracia contaria com a unidade necessária
para barrar qualquer tentativa de golpe. No lugar do nem-nem”, consolidaria um
NÃO contra a tragédia da decadência nacional representada por um novo mandato
de Bolsonaro, promoveria o diálogo com a população assumindo erros do passado e
compromissos com o futuro, formularia as linhas básicas do governo seguinte:
apenas um mandato, retomada do prestígio do Brasil no exterior, recuperação do
tempo perdido na área social, enfrentamento do problema do desemprego e da
recessão, proteção da riqueza natural, especialmente a Amazônia, início de
estratégia para superar o atraso e a desigualdade na educação.
Difícil construir esta Pessoa Jurídica
Democrática, por causa da arrogância que vem do tamanho do Partido dos
Trabalhadores e seu candidato em relação a todos os outros e por causa dos
preconceitos de todos os outros em relação ao PT, por causa dos erros cometidos
nos governos deste partido. A arrogância e o preconceito, a falta de percepção
do risco do golpe para dar posse à Pessoa Jurídica do Autoritarismo, parecem
levar o Brasil na marcha que todos dizem querer evitar, mas cada um faz o que é
preciso para que aconteça: o golpe anunciado do terceiro turno.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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