O Globo 08/09/2021
O Brasil precisa urgentemente equilibrar os
chacras. Pela definição, chacras são o motor elétrico da alma, que, além de
atrair, irradiam energia. Atualmente, essa energia está fora dos eixos,
conflagrada, extremamente polarizada e crivada de intolerância. Uma pessoa não
vive bem assim, e uma sociedade também não. No lugar de ataques que
desconstroem, é preciso diálogo para um entendimento que propicie melhoria real
à vida da população. O bom é que há remédio para o país, e ele está no
exercício da democracia.
A democracia carrega uma grande qualidade,
porque não trata vozes dissonantes como inimigos, mas adversários. Oferece um
ambiente em que é absolutamente plausível a manifestação de diferentes pontos
de vista, crenças, pensamentos. Na verdade, a democracia é experimentada já nas
famílias, onde cada um tem expectativas diversas, mas, em conjunções sadias,
todos buscam uma convivência harmônica.
Esse ambiente familiar projeta-se na sociedade, na medida em que grupos desiguais coexistem e têm o direito à expressão, mas sempre com respeito às discordâncias.
Sim, destaque-se, respeito — porque é
preciso ter modos. A intransigência com levas de irritação, apontando a
violência como ferramenta, definitivamente, não é o caminho para a solução de
diferenças.
Os brasileiros têm natureza pacífica,
alegre, cordial. É mais que hora de recobrar esse espírito. Não é cabível
vivenciarmos tantas tempestades e considerá-las fenômenos naturais, ainda mais
ante a elevação do nível dos raios. Diante desse cenário e com a firme
determinação de procurar caminhos que reúnam a sociedade brasileira, quatro
partidos — MDB, PSDB, DEM e Cidadania — aliaram-se para realizar um profundo
debate (prática rara nestes tempos). As discussões ocorrerão entre 15 e 27 de
setembro, num seminário virtual, como recomendam as precauções com a pandemia,
e que indicará “Um novo rumo para o Brasil”.
A disposição de mudar esse estado de intolerância é tal que três ex-presidentes da República, Michel Temer, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, farão a abertura, junto a uma constelação de especialistas em política e economia com notório saber em suas áreas. Este é um movimento que veio para ficar, resistir a ameaças inaceitáveis de rupturas no país e reorganizar pacificamente a sociedade brasileira nas suas diferenças.
Os políticos não podem descansar com uma
desigualdade social absurda, uma taxa de desemprego altíssima, dificuldades de
assistência de saúde adequada para enfrentar a pandemia e um número excessivo
de mortes enredadas em descrença. O país precisa voltar a crescer, gerar
empregos, renda e assegurar igualdade de oportunidade a todos. As instituições
públicas existem e devem ser valorizadas em seus papéis de defesa da população,
e não desconcertadas como se produzissem insegurança. O choque de democracia
vem para alimentar esperança e entregar um programa saudável de transformação.
*Ex-governador do Rio e ex-ministro de Minas e Energia e da Secretaria-Geral da Presidência, é presidente do conselho da Fundação Ulysses Guimarães
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