quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Bruno Boghossian – O Impeachment e o cálculo de Lira

Folha de S. Paulo

Força de políticos cresce à medida que Bolsonaro fabrica riscos e ganha segundas chances

Arthur Lira não quer saber de impeachment. Depois que Jair Bolsonaro subiu num carro de som para ameaçar o Supremo, o presidente da Câmara falou em "bravatas em redes sociais", pregou uma pacificação que sabe que não virá e disse que o país deve ter serenidade para esperar as eleições do ano que vem.

Abrir um processo para derrubar Bolsonaro ainda é um mau negócio para os deputados que formam o miolo da Câmara. A tensão política e o enfraquecimento do governo ampliam o poder desses parlamentares e permitem que eles direcionem seus esforços para o que importa: sua própria sobrevivência.

A força de Lira cresce à medida que Bolsonaro fabrica riscos e ganha do mundo político segundas, terceiras e quartas chances. Antes de chegar ao comando da Câmara, o deputado já liderava um centrão que dava estabilidade ao governo. Desde então, seu grupo ganhou controle sobre bilhões de reais do Orçamento e foi recompensado com dois ministérios dentro do Palácio do Planalto.

Lira não está sozinho. Embora alguns partidos tenham começado a discutir o impeachment, o arranjo atual é uma aposta mais segura para parte dos parlamentares. Uma mudança de presidente exigiria um novo pacto com o Executivo, e hoje há mais incertezas do que convicções sobre o poder dessas siglas num governo de Hamilton Mourão.

A Câmara tenta tirar proveito do desequilíbrio fabricado por Bolsonaro. O próprio Lira sugeriu que a Casa deve ter mais protagonismo político e votar "o que é de interesse público". Já os projetos da agenda do governo devem ficar em segundo plano –podem ser votados a conta-gotas, a um preço nada módico.

Os parlamentares do centrão e arredores apostam que não deve haver ruptura e esperam estar em posições confortáveis para negociar espaços no próximo governo. Para isso, trabalham pelo próprio futuro. Não é surpresa que o primeiro projeto na pauta após a ameaça golpista de Bolsonaro seja uma reforma do código eleitoral que facilita a vida dos políticos.

 

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