O Estado de S. Paulo
Interesse crescente dos jovens pelas
eleições é sinal inequívoco de que a democracia veio para ficar
A vibração
democrática nasceu, no Brasil, nas eleições de 1982. Eu não tinha idade para
votar, mas era impossível não ser envolvido pelo clima eleitoral – nas
discussões familiares, na propaganda política na TV, nas conversas na escola.
Era a primeira vez em muito tempo que os brasileiros iriam votar em algo que
valia alguma coisa: os governadores dos Estados. As eleições para o Congresso
não contavam: eram viciadas pelos parlamentares biônicos, nomeados pela
ditadura.
Eu estava fascinado pela grande novidade daquela eleição: os debates na TV. Meu pai dizia que iria votar na zebra, Rogê Ferreira, seu antigo colega na Faculdade de Direito da USP – mas desconfio que queria mesmo era fugir das discussões familiares, já acirradas naquele tempo. Rogê chegou em último, e até hoje é lembrado pela pergunta que, num debate, fez ao penúltimo colocado na corrida pelo governo paulista. “O senhor é socialista, comunista ou trabalhista?” A resposta ficou famosa: “Sou torneiro mecânico”. Era Lula, novidade barbuda daquela eleição.
Foi um pleito que marcou o fim de uma era e o início de outra. Franco Montoro, que venceu as eleições, também representava o novo, embora fosse um político experiente. Criou o núcleo que mais tarde fundaria o PSDB – ele próprio, José Serra, Mario Covas e Fernando Henrique.
Eram as primeiras eleições da minha vida, e
eu não votei porque não tinha idade suficiente. Hoje, os adolescentes de 16 a
18 anos podem votar – e parecem empolgados como eu. Nesta terça-feira, dia 5,
jovens de várias capitais brasileiras vão se mobilizar na campanha “Cada Voto
Conta”, organizada por várias entidades da sociedade civil. “Os jovens querem
influenciar as decisões futuras sobre universidades, sobre o mercado de
trabalho onde vão entrar, preservação da Amazônia, direitos dos negros e das
mulheres”, diz Daniela Orofino, da ONG Nossas. Ela é a entrevistada do
minipodcast da semana.
O movimento de terça-feira não terá o
formato de manifestação de rua. Será, em vez disso, uma espécie de mutirão,
onde jovens que já se registraram ajudarão os que têm dificuldades com a
plataforma do TSE – “que é pouco intuitiva para essa geração, parece um site
dos anos 1990”, diz Daniela Orofino.
Ainda existem no País dinossauros que gostam de ditadura. Alguns deles se manifestaram neste 31 de março. Surpreende que ainda não estejam extintos como os bichos jurássicos. A democracia veio para ficar, é uma conquista dos brasileiros – e o interesse crescente dos jovens pelas eleições e pelo futuro do País é sinal inequívoco disso. Eu não votei, mas eles vão votar.
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