O Estado de S. Paulo
Lula pôs o bloco na rua, a partir da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Já estão postos também os programas de gás e energia elétrica para todos; e lançadas as promessas de tarifa zero no transporte público e de fim da escala de trabalho 6x1. O discurso está armado; os sonhos, vendidos – e não importa que não haja dinheiros para custeá-los. Arranje-se. O governo disputará politicamente a abertura, a fabricação mesmo, de espaço fiscal para realizá-los. O Orçamento de mentira tem a vantagem de sempre poder abrigar mais bondades.
Há um claro realinhamento de postura – para o
confronto – ante o Parlamento e os partidos do chamado Centrão. Uma estratégia
de constrangimento sobretudo à Câmara; daí a reação – “Congresso inimigo do
povo” – quando derrubada a medida provisória de compensação ao IOF. Outra
reação derivada da mudança de atitude: partidos com cargos na máquina federal
que não votem com o Planalto perderão as boquinhas. Já perderam algumas.
O governo gastador não desistirá de
arrecadar, de raspar quaisquer tachos, e o fará doravante sem vergonha,
encaixada a projeção do 2026 eleitoral: tomar mais impostos aos mais ricos para
descarregar os mais pobres. Esse é o texto – e não importa que não sejam
somente os super-ricos a pagar a conta, tampouco importando que petistas também
cedam ao lobby da jogatina.
A estratégia para intimidar o Parlamento
“lobista de milionário” aposta na constituição de imagem do governo “defensor
do povo”. É eficiente. Talvez não seja suficiente. Lula precisará equilibrar o
verbo, gerir a tensão na corda, para a aprovar seus projetos. Necessitará dos
legisladores para fazer prosperar a agenda forjadora de grana. Conflito não
produz – não entrega – bem-estar à população. E – lembremos – este Legislativo
deu a PEC da Transição de presente a Lula, ainda antes de o mandato começar,
graças à qual pôde levantar o voo de galinha da economia brasileira de que se
gaba.
O presidente dependerá da turma. Em 2022,
Jair Bolsonaro baixou a bola e compôs com os donos do Congresso para aprovar
seu pacotão de bondades, PEC Kamikaze etc., e ter assegurado o financiamento
público de sua tentativa de reeleição. Discurso brigão à parte, Lula terá de
fazer rir, se quiser rir. As negociações pela LDO de 2026 oferecerão boa
oportunidade para apaziguamento. O Planalto ameaça congelar o disparo das
emendas para compensar a receita não alcançada. Os parlamentares querem acertar
um calendário de pagamento das emendas no ano eleitoral. Tem jogo.
Foi assim em 2024, em função das eleições municipais, explícito que a perversão da emenda parlamentar criou um fundão eleitoral paralelo. Deputados e senadores – que também concorrerão por se reeleger e sustentar o status quo – querem driblar os limites da lei eleitoral e ter emendas baixando em seus quintais até junho. Tem muito jogo.
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