Folha de S. Paulo
Todo sistema carrega as sementes de sua
própria distorção e STF não é exceção
É possível aprimorar modelo de escolha de ministros, para reduzir lealdade a quem os indicou
A crer nas colunas de bastidores, o candidato com
maiores chances de ser indicado por Lula para
o STF é Jorge Messias,
não por acaso o mais próximo ao presidente.
Todo sistema carrega em si as sementes de sua perversão futura. O modelo de escolha de magistrados para o STF não é exceção. Ao menos no que diz respeito à independência dos juízes, o desenho já funcionou. O melhor exemplo disso é o julgamento do mensalão. Ali, a cúpula petista foi condenada, apesar de 8 dos 11 ministros terem sido indicados ou por Lula ou por Dilma Rousseff.
Minha hipótese para explicar o fenômeno está
na vitaliciedade. Uma vez nomeado, o ministro só sai morto, aposentado ou por
vontade própria. Isso significa que ele só deve satisfações a si mesmo. E a
vaidade fazia o resto. Num ambiente que cultiva o amor-próprio, como é o da
principal corte do Judiciário, a biografia tendia a valer mais do que a
lealdade.
O problema não passou despercebido a
presidentes, que foram deixando de indicar juristas de renome com visões de
mundo próximas às suas (que era o esperado pelo sistema) e passaram a apontar
figuras com as quais tinham proximidade pessoal, de preferência numa relação de
subordinação.
Se Messias for mesmo para o posto, dos seis
magistrados mais recentes, quatro terão ocupado o cargo de ministro da Justiça
e/ou de AGU dos
presidentes que os indicaram. Outro foi advogado pessoal do mandatário. Kassio ninguém
explica.
Há um cardápio extenso de medidas para
combater essa distorção, desde as menos intervencionistas, como estabelecer uma
quarentena para que quem tenha servido no Executivo possa tornar-se ministro do
STF, até redesenhos mais radicais. Mandatos fixos e a limitação da escolha
presidencial a listas elaboradas por outras instituições (como já ocorre para
outras cortes superiores) são alternativas sempre lembradas.
A vantagem de um sistema liberal baseado em
regras é que ele sempre comporta aprimoramentos que podem contrabalançar, ainda
que não eliminar, essa e outras perversões seminais.
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