Folha de S. Paulo
Por que a fala de Nikolas mereceu mais
confiança que a palavra de Lula?
A mentira danosa, fruto da má-fé, existe
desde sempre como bem soube o PT quando a
aplicou contra a então candidata à Presidência Marina Silva (Rede)
na campanha de 2014, acusando a hoje ministra do Meio Ambiente de se aliar a
banqueiros para tirar comida do prato dos brasileiros.
Lula também
estava consciente da força de um boato ao pespegar no governo do antecessor o
dístico da "herança maldita".
Portanto, por mais condenável que seja o jogo sujo, não se pode dizer que a cigana o enganou sobre a contingência de se ver às voltas com uma oposição feroz e sem freio moral.
Se esperava o ambiente de doçura da época em
que seu oponente era o PSDB, Lula exibe falha grave no radar sempre celebrado
como dos mais afiados da República. Ou não sabia com quem estava lidando ou se
superestimou, hipótese mais provável.
A dúvida importa menos que a certeza de que o
presidente não se preparou adequadamente para o terceiro mandato. Ignorou a
realidade tanto sob o aspecto das mudanças na sociedade quanto do ponto de
vista do enfrentamento aos adversários.
O recente
episódio do Pix —mal comunicado e pior ainda cancelado—
é um resumo dessa história em que uma instrução burocrática da Receita se
transforma numa crise que escancara a fragilidade de um governo cheio de
instrumentos de poder, mas incompetente no manejo das armas.
Uma correção de rumos poderia começar pela
busca de uma resposta à seguinte pergunta: por que as pessoas estão mais
dispostas a acreditar menos no presidente da República do que num deputado
lacrador, cujo viés caricato já o fez subir
à tribuna de peruca loura para ridicularizar pessoas trans?
As jogadas trapaceiras atraem, mas não fazem
o serviço sozinhas. Precisam da ajuda de um terreno fértil para vicejar. No
caso, a falta de confiança plantada por um governo que não sabe tirar proveito
das vantagens de ser situação.
Para complicar, fala aos integrantes do grupo
"nós" e deixa entregues à boa sorte da oposição os incluídos na
categoria "eles", aos quais se reserva o tratamento de cidadãos de
segunda classe.
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