domingo, 6 de dezembro de 2009

Partidos vão deixar discurso da ética de lado

DEU EM O GLOBO

CORRUPÇÃO DOCUMENTADA: "Isso pode dar condições para candidatos do "rouba, mas faz" ganharem espaço"

Depois dos mensalões do PT, do DEM e do PSDB, candidatos devem evitar o tema nas eleições de 2010

Chico de Gois

BRASÍLIA. O bordão "Ética na política", que ganhou amplitude no Brasil na época do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, não tem mais porta-voz no meio partidário. Depois do PT, que durante anos utilizou a frase como se fosse sua e depois foi flagrado praticando mensalão, outros partidos que quiseram segurar a bandeira caíram no mesmo erro. Caso do PSDB e do DEM, as duas principais legendas de oposição ao PT. Nas eleições do ano que vem, não deverão ser os candidatos de grandes partidos que se prestarão ao discurso da cobrança da ética. Esse papel, dizem especialistas e reconhecem os próprios políticos, será da sociedade.

Depois de o PT ver figurões do partido arrastados pelo escândalo do mensalão, em 2005, o PSDB viu um de seus senadores, o mineiro Eduardo Azeredo, ser levado ao banco dos réus, no Supremo Tribunal, por prática semelhante. Poucos dias antes, o DEM foi calado pelo escândalo envolvendo o governador José Roberto Arruda e seus aliados no Distrito Federal.

Os partidos já não darão o destaque que o tema corrupção merece em rede nacional de rádio e TV, segundo avaliação de especialistas. O que dará margem a que candidatos de pequenos partidos queiram levantar a voz da ética, para atrair votos. Para o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), apesar de a ética ainda influenciar o voto do eleitor, a sucessão de escândalos envolvendo os principais partidos cria uma sensação de terra arrasada, onde todos se igualam por baixo:

- Isso é grave, porque pode dar condições para candidatos identificados com o "rouba, mas faz" ganharem espaço.

Ao mesmo tempo em que se igualam nos escândalos de corrupção, os partidos que vão disputar votos em 2010 tentam reconstruir seus discursos. Já está ficando comum os políticos, para negarem irregularidades graves, admitirem um crime eleitoral, como o caixa dois. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), por exemplo, diz que o PT não praticou mensalão, mas caixa 2. E ataca o DEM:

- Eles nunca tiveram moral para levantar esta questão da ética na política.

Vaccarezza afirma ser contra o que considera a tentativa de alguns setores de jogar todos os políticos e partidos numa vala comum. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO), um dos que sempre ocupam os microfones para cobrar ética - inclusive agora, no episódio envolvendo Arruda, seu colega de partido - afirma que não abandonará essa bandeira:

- Vou explorar esse tema na campanha. Não vou varrê-lo para debaixo do tapete.

Pedro Simon (PMDB-RS) não vê muita possibilidade de melhora a curto prazo. Pelo contrário. Ele avalia - a partir das imagens mostrando Arruda e deputados distritais recebendo dinheiro - que os corruptos vão aperfeiçoar suas técnicas.

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