Segundo presidente do BC, efeito da perda é "perverso" e saída é crescimento econômico
TombinI: "estamos vendo uma virada preocupante nos índices"
Gabriela Valente e Vivian Oswald
BRASÍLIA. A crise já transformou em pó US$10 trilhões das empresas em apenas quatro meses. Esse foi o tombo das ações em bolsas de valores do mundo inteiro, segundo o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ao participar ontem de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Para ele, essa perda tem um efeito negativo e perverso sobre os agentes econômicos.
Aos senadores da CAE, Tombini usou adjetivos como "drástico", "mergulho" e "dramático" para classificar aspectos da crise. Disse que todos podem esperar volatilidade das moedas e que, hoje, com lugar garantido em vários fóruns internacionais, o BC brasileiro tem condições de fazer uma avaliação melhor do quadro total, mas até isso tem limite.
- Não tenho bola de cristal para saber se um país vai quebrar ou um banco.
Tombini lembrou que a turbulência na Europa e nos Estados Unidos tem se agravado nas últimas semanas, como previsto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no fim do mês passado. Na avaliação do presidente do BC, as armas dos países para fazer uma política de estímulo à economia se "esgotaram". Ele destacou que tudo começou com problemas nas dívidas soberanas. Num claro recado de que a instituição está cuidadosa para não sufocar o desempenho da economia, reafirmou que a saída é o crescimento econômico.
- Conhecemos bem crises soberanas, crises de dívidas. Elas demoram muito para se resolver. E um dos aspectos principais que ajudam na resolução é o crescimento econômico: o denominador dessa razão dívida/PIB (principal indicador da saúde fiscal de um país).
Ele afirmou que o Brasil está preparado para enfrentar a crise. No entanto, não está isolado nesse processo que corrói a atividade produtiva industrial no mundo inteiro, inclusive na China, como visto em 2008.
- Estamos vendo uma virada preocupante nos índices de atividade econômica - disse.
Mantega: governo não estuda mexer no IOF
Tombini disse que o BC está pronto para atuar novamente no câmbio para garantir que o mercado funcione normalmente. Ele chegou a falar que o estresse da semana passada seria bem maior se o governo não tivesse tomado medidas que obrigassem os investidores a reduzirem as apostas contra o dólar. Essas aplicações caíram de R$40 bilhões no fim do ano passado para R$4 bilhões, tornando-se mais "manipuláveis", do ponto de vista do BC.
Ontem, foi o dia de o BC colher os louros da sua decisão de reduzir os juros no fim de agosto, medida que surpreendeu e causou polêmica no mercado. No Congresso, Tombini ouviu vários elogios à decisão.
Enquanto o presidente do BC falava aos senadores, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentava minimizar para jornalistas a preocupação do governo sobre a crise. Mesmo assim, admitiu que a situação internacional ainda não é boa na Europa e nos EUA. Mantega defendeu a aprovação rápida do novo fundo de estabilidade financeira da Europa, para ajudar as economias em dificuldades.
- A exemplo do que o Fed (o banco central americano) fez nos EUA, esse fundo tem de ser aprovado logo para que a situação fique sob controle. Mas, mesmo assim, a crise vai continuar - observou.
Mantega afirmou que o governo não estuda medidas adicionais contra a crise, nem alterações no Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) estabelecido para alguns contratos de derivativos. Na avaliação do ministro, as distorções, nas últimas semanas, da taxa de câmbio já teriam sido corrigidas, sem qualquer necessidade de novas ações da equipe econômica.
FONTE: O GLOBO
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