Estrelas dos principais partidos da base governista recusam-se a participar da
comissão que vai investigar Carlinhos Cachoeira e alegam que estão
sobrecarregadas com outras tarefas
Denise Rothenburg e Juliana Braga
Brasília – Escaldados depois de várias comissões parlamentares de inquérito (CPIs),
os grandes nomes dos partidos planejam ficar longe da comissão mista que vai
investigar os negócios do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, a ser instalada esta semana. O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL),
por exemplo, avisa que não pretende compor o colegiado. "Líder pode falar
a qualquer hora. Não serei da CPI. Nunca quis ir para a CPI", afirma. Na
mesma linha seguem o líder do governo, Eduardo Braga, e o ex-líder do governo
Romero Jucá (PMDB-RR). O peemedebista, cogitado para ser presidente da
comissão, comunicou ao líder que considera a função de relator do Orçamento
trabalhosa demais para dividir a atenção. Quanto a Braga, entretanto, o martelo
não está batido.
O PMDB tem cinco vagas de titulares na CPI. Um deles será o presidente da
comissão, Vital do Rego (PB). Uma vaga será cedida ao PP e ficará com o senador
Ciro Nogueira (PI). As outras três ainda não estão definidas. Além de Eduardo
Braga, um dos nomes a serem incluídos deve ser o do senador Clésio Andrade
(MG), presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Clésio é
cristão novo nas hostes petistas. Durante a crise que tirou o PR do Ministério
dos Transportes, ele estava no partido, o mesmo do ex-ministro Alfredo
Nascimento.
O PMDB não é o único partido em que senadores de ponta desejam ficar fora.
No PSB, Rodrigo Rollemberg (DF) foi aconselhado a não fazer parte dela.
"Estou muito focado na Rio+20. Junho está chegando. Não posso participar
da CPI", diz ele. Mas há outras razões: Rollemberg desponta como pré-candidato
a governador do Distrito Federal. Seu partido é aliado do governo de Agnelo
Queiroz, que terá o que explicar na CPI.
O principal mistério da comissão ainda é o PT. Titulares e suplentes
continuam indefinidos devido a disputas internas dentro da legenda. A briga
para definir se os petistas da CPI serão mais alinhados ao Planalto ou a
personagens históricos, como o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu,
não se restringe ao relator. A tendência é de que a presidente Dilma Rousseff
ganhe a queda de braço e os escolhidos para ocupar as três vagas às quais a
sigla tem direito tentem proteger o governo federal e as obras do PAC.
O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), a quem cabe a decisão a respeito
dos deputados, desconversa e nega a existência do impasse. Ele diz que os
selecionados serão alinhados "ao Planalto, à Dilma e ao Lula". Tatto
disse que andou conversando com "todo mundo" e que os nomes que
anunciará amanhã não reduzirão as investigações às relações das empreiteiras
com o governo federal. "É para apurar grampo, arapongagem,
parlamentares... É uma CPI que não é só de empreiteira", enfatizou ele.
Começo equilibrado
A impressão geral é a de que a CPI tende a um começo mais
equilibrado do que se imaginava. Nem o PR, que chegou a retirar o apoio ao
governo na Câmara depois de ter Alfredo Nascimento defenestrado do Ministério
dos Transportes e não ter escolhido um sucessor que agradasse à legenda, é
visto como possível ameaça dentro da base aliada. Anthony Garotinho (PR-RJ)
tentou ocupar a vaga, mas não foi aceito pelo partido. "O PR tem um nome
só. É incapaz de causar problemas", acredita o deputado Fernando
Francischini (PSDB-PR), que será titular da comissão.
Até o deputado Rubens Bueno (PR), titular da comissão e líder do PPS,
partido de oposição na Câmara, evita bater no governo federal nessa largada.
"Há no Congresso uma preocupação de sair de uma crise grave como essa. É
preciso dar um novo rumo", diz, otimista, completando que acredita que
essa CPI será "para valer". Admite preocupação apenas quando
questionado se, tendo a maioria, a base aliada não tentará queimar os
envolvidos ligados à oposição. "Há uma preocupação com relação a isso,
ninguém pode negar", reconhece. O deputado Stephan Nercessian (PPS-RJ) é
um dos citados nas investigações.
As disputas tendem a ser reduzidas, pois as investigações já trouxeram à
tona nomes de partidos da base e da oposição, em diversas esferas do governo.
Acredita-se que a CPI comprometerá apenas os envolvidos já descobertos e, para
evitar novas surpresas em ano de eleição municipal, as brigas devem ser menores
que em outras comissões parlamentares de inquérito.
Por ser ano eleitoral, os parlamentares estão ainda mais preocupados com as
redes sociais e as repercussões que podem vir das investigações. Por isso
evitam comprometer-se. Exemplo disso é o caso do deputado Sandro Alex (PPS-PR),
que não assinou o pedido de criação da CPI porque estava viajando em missão
oficial pela Comissão de Ciência e Tecnologia, da qual faz parte. Alvo de
críticas na internet, fez questão de apressar-se a prestar esclarecimentos e
justificar suas atitudes.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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