Ainda não é o fim,
que pode estar longe, mas esta Comissão Parlamentar de Inquérito, tudo indica,
tem o suficiente para um bom começo. O
resto depende apenas do que o governo e a oposição entendem por um bom começo
para uma CPI. Governo e oposição
divergem no entendimento do que seja um bom começo para encerrar questão de
vida para um e de morte para o outro. Trata-se de CPI para uma exuberante catarata.
O fato é que, num país pobr e de
idéias e rico de vias (expressas e exclusivas) de enriquecimento, não se joga
pela janela uma CPI gorda de imprevistos.
Em suma, como
solução de emergência, CPI não pinga o ponto final num indeterminado período
nacional, mas pode perfeitamente ser o
começo (que ficou faltando) de uma etapa compensatória, sempre adiada e já
agora sem o viés de golpe. Uma reforma com inicial maiúscula, sempre engavetada,
era oferecida como alternativa para propostas e soluções por via radical que não passava de espuma
retórica. Nada além de motor de arranque de oradores sedentos de quinze minutos
de sucesso radical para fazer currículo.
A História tem o
método, ou mesmo o hábito, tanto faz, de preferir as vias sinuosos, curvas
inesperadas e efeitos especiais. A última oportunidade de reformas como opção
nacional ocorreu com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao
poder, sob a expectativa de que o Século 21 trazia com ele o reconhecimento de
que as revoluções estavam arquivadas por tempo indeterminado. E assim o novo
sentido de esquerda estava expresso na carta que Lula dirigiu aos br asileiros e, finalmente, ao se instalar no poder,
reverenciou os valores da direita e não se falou mais em reformas nem de revolução.
Como diria Gertrude Stein, uma CPI não é mais que uma
CPI, uma CPI, outra CPI, à qual o Brasil
retorna, depois de várias voltas em torno do próprio umbigo constitucional.
Duas daquelas a que recorremos, no passado mais remoto e na Nova República, inclusive
em tentativas que se frustraram, com resultado e conseqüências em dose
suficiente para evitar queixas.
A primeira CPI, sob a Constituição de 1946,
inverteu o curso político nacional. no segundo governo eleito depois da
ditadura (Estado Novo). Começou como se nada quisesse proporcionar além do
espetáculo parlamentar, com o objetivo de apurar privilégios bancários oficiais
que fizeram do jornal Última Hora um sucesso político à
sombr a de Getúlio Vargas de volta ao
poder cinco anos depois (com a agravante de ter sido pelo voto) e com as imprevisíveis
conseqüências que proporcionou. A maior de todas, logo adiante, a morte do presidente Vargas, que não
estava entre as possibilidades admitidas previamente.
A outra CPI foi a
que deu o toque wagneriano à mobilização social da mesma classe média e persuadiu
o primeiro presidente eleito pelo voto direto, Fernando Collor de Melo, a deixar
o governo por um preço político menor. Bem
depois, o mensalão, assim batizado por Lula, sobr eviveu
por falta de conclusão e continua por aí como a famosa mula sem cabeça com que
o ex-presidente pretende amedrontar a oposição em fase minguante. As
demais comissões parlamentares de inquérito não tiveram cotação política, nem
expressão nacional.
A primeira CPI que
renasce das cinzas quentes de um fictício parlamentarismo de coalizão, para
dizer o mínimo, introduziu um componente político a ser considerado com outros
olhos: a participação pessoal de Lula na função de insuflador do jogo perigoso,
como atesta o espetáculo de corrupção em cartaz.
Uma CPI é uma CPI,
não mais do que o título genérico enuncia, e as conseqüências que se pagam para
ver. Afinal, a História não passa de um jogo de cartas de que se ocupam deuses
do Olimpo, no tédio da eternidade.
FONTE: JORNAL DO
BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário